Brasileiros aceleram mudança para Portugal com medo de novo fechamento de fronteiras

Ômicron, cancelamento de festas de Réveillon e retorno de medidas anti-Covid geram temor de que governo volte a isolar o país

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Lisboa

Com a alta dos casos de Covid em Portugal, brasileiros com mudança programada para o país temem ser afetados por uma nova onda de restrições de viagens e de fechamento de fronteiras.

Em janeiro de 2021, em seu pior momento da pandemia, Portugal cancelou todos os voos com origem ou destino no Brasil. A medida vigorou por 77 dias e criou enormes dificuldades dos dois lados do Atlântico.

Agora, a emergência da variante ômicron, o cancelamento de festas de Réveillon em várias cidades lusas e o retorno de medidas anti-Covid geraram o temor de que as autoridades voltem a isolar o país.

Mulher com máscara caminha no parque Tejo, em Lisboa, perto da ponte Vasco da Gama
Mulher com máscara caminha no parque Tejo, em Lisboa, perto da ponte Vasco da Gama - Patricia de Melo Moreira - 1º.dez.21/AFP

"Todos os dias recebo relatos de pânico. Tem gente que já tirou o filho da escola, que já vendeu a casa", afirma a empresária Patrícia Lemos, que trabalha com assessoria para imigração de brasileiros.

Em grupos nas redes sociais, brasileiros relatam nervosismo com a possibilidade de um novo fechamento de fronteiras, embora o governo português não tenha dado quaisquer sinais neste sentido. As atuais regras de viagem seguem em vigor ao menos até o próximo dia 9 de janeiro.

Com passagens para o começo de fevereiro, o jornalista Ricardo Lombardi e a família estão inclinados a acelerar a mudança. "Estávamos tranquilos até a semana passada, mas já cogitamos adiantar a ida para a primeira semana de janeiro, antes do dia 9, porque depois não sabemos o que vai acontecer."

Inicialmente, a família embarcaria para o país europeu em agosto, mas problemas de saúde acabaram atrasando os planos. Em busca de melhor qualidade de vida, sobretudo para a filha de 8 anos de idade, Lombardi já tem praticamente tudo pronto para a partida, incluindo a venda da maior parte da mobília.

A empresária Caroline Paes, que trabalha com treinamento para executivos, também faz parte do grupo que avalia adiantar a mudança para Portugal. "Já vi este filme antes. E não é simplesmente sair do Brasil e ir embora, temos mudança para fazer, móveis para vender, escola para matricular os filhos. São várias decisões que, por vezes, não são revogáveis", afirma ela.

"Já estou no desapego da minha casa, arrumando toda a documentação. Porque na hora que precisar quero apenas comprar a passagem e ir. Já sou cidadã portuguesa e tenho família lá, então felizmente consigo tomar essa decisão em cima da hora."

De mudança junto com o marido e o filho, Paes afirma que a imposição de um novo confinamento geral –como aconteceu na Áustria– faria com que ela adiasse o projeto para o segundo semestre de 2022.

Com base nas experiências de seus clientes, a empresária Patrícia Lemos diz que também houve muita gente que preferiu adiar os planos para um momento de menos incerteza.

Embora um eventual agravamento das restrições vá afetar os que planejam se mudar para Portugal, a medida teria especial impacto nos que viajam como turistas e permanecem no país para viver e trabalhar sem a documentação adequada. Por isso, a técnica de enfermagem Débora, que pediu para não ter o sobrenome revelado, comprou passagem para chegar a Portugal ainda na primeira quinzena de dezembro.

Nascida em Goiás, ela relata ter medo de passar um longo período como migrante irregular na Europa, mas diz não ver alternativas para criar o filho no Brasil. Diferentemente de outros países da União Europeia, Portugal permite de maneira relativamente simples a regularização de estrangeiros nesta situação. Os processos, no entanto, costumam se arrastar por anos até a concessão das autorizações de residência. Neste período, os imigrantes ficam vulneráveis social e economicamente.

Como as fronteiras lusas ficaram fechadas para turistas brasileiros entre março de 2020 até 1º de setembro deste ano, ainda existe uma demanda reprimida dos que pretendem imigrar desta forma.

Assim, entidades de apoio a imigrantes já relatam um intenso fluxo desde a reabertura das fronteiras para turistas. Os brasileiros são a maior comunidade estrangeira no país. Em 2020, o número de residentes em situação legal cresceu pelo quarto ano consecutivo, atingindo o recorde de 183.993: alta de 21,6% em relação a 2019. O número não inclui pessoas com dupla cidadania portuguesa ou de outro país da UE nem quem reside de maneira irregular no país. O Itamaraty calcula que 300 mil brasileiros vivam em Portugal.

O número de casos de Covid no país tem aumentado nas últimas semanas, mas segue em patamar muito inferior ao do mesmo período de 2020. Portugal, com cerca de 10 milhões de habitantes, tem uma das mais altas coberturas vacinais no mundo, com mais de 87% da população completamente vacinada.

Na segunda-feira (6), havia 948 pacientes internados devido à doença, 135 dos quais em unidades de terapia intensiva. Há um ano, eram 3.268 hospitalizações, 514 das quais nos cuidados intensivos.

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