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Monge considerado pai do mindfulness morre no Vietnã

Ativista Thich Nhat Hanh era amigo de Martin Luther King e teve conceito abraçado por líderes de grandes empresas

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Reuters

Thich Nhat Hanh, referência da prática do mindfulness e monge zen-budista que ganhou destaque como ativista contra a Guerra do Vietnã, morreu neste sábado (22) aos 95 anos, cercado por seus seguidores no templo onde sua jornada espiritual começou.

"Venerável Thich Nhat Hanh viveu uma vida verdadeiramente significativa. Não tenho dúvidas de que a melhor maneira de prestar homenagem a ele é continuar seu trabalho para promover a paz no mundo", escreveu o dalai-lama, líder espiritual do budismo tibetano, no Twitter.

Homem com cabelo raspado é mostrado sentado ao lado de criança
Thich Nhat Hanh no templo Tu Hieu, no Vietnã, em foto de 2019 - Linh Pham/The New York Times

O funeral do monge deve durar uma semana e será realizado em um dos templos Plum Village no Vietnã, de acordo com seus seguidores.

Nhat Hanh viveu mais de cinco décadas no exterior, fazendo campanha contra a guerra e ensinando a prática do chamado mindfulness. O reverendo Martin Luther King Jr., líder pela luta por direitos civis, o tinha como amigo e o recomendou para o Prêmio Nobel da Paz em 1967. A apresentadora de TV Oprah Winfrey o entrevistou, e líderes de grandes empresas de tecnologia abraçaram seus ensinamentos. O então presidente dos EUA Barack Obama o citou na visita que fez ao Vietnã em 2016.

Em um conjunto de obras e aparições públicas, Nhat Hanh falou, sempre em tom gentil, da necessidade de "andar como se estivesse beijando a terra com os pés".

O monge sofreu um derrame em 2014 que o deixou incapaz de falar —ele se comunicava por gestos— e voltou ao Vietnã para viver o período final de sua vida na cidade de Hue, antiga capital do país e seu local de nascimento, depois de passar grande parte de sua vida adulta no exílio.

Como pioneiro do budismo no Ocidente, ele criou o mosteiro Plum Village em Bordeaux, na França, e falou regularmente sobre a prática de mindfulness, a atenção plena —que consiste em identificar e distanciar-se de certos pensamentos sem julgamento. Pela definição dele, é "a energia de estar consciente e desperto para o momento presente".

"Você aprende a sofrer. Se você souber sofrer, sofre muito, muito menos. E então entende como fazer bom uso do sofrimento para criar alegria e felicidade", disse ele em uma palestra de 2013. "A arte da felicidade e a arte do sofrimento andam sempre juntas".

Nascido Nguyen Xuan Bao em 1926, Nhat Hanh foi nomeado monge quando o revolucionário Ho Chi Minh liderou os esforços para libertar o Vietnã de seus governantes coloniais franceses.

O ativista, que falava sete idiomas, lecionou nas universidades de Princeton e Columbia, nos Estados Unidos, no início dos anos 1960, e retornou ao Vietnã em 1963 para se juntar a uma crescente oposição budista à Guerra do Vietnã —que ficou marcada por protestos de autoimolação de vários monges.

"Vi comunistas e anticomunistas matando e destruindo uns aos outros porque cada lado acreditava que tinha o monopólio da verdade", escreveu ele em 1975. "Minha voz foi abafada pelas bombas, pelos morteiros e gritos".

Por meio de uma organização de assistência, ele ajudou a reconstruir aldeias bombardeadas, a montar escolas e hospitais e a reunir famílias desabrigadas pela guerra.

No auge do conflito, ainda na década de 1960, ele conheceu Luther King, a quem persuadiu a se manifestar contra o que estava acontecendo no Sudeste Asiático. O ativista americano chamou Nhat Hanh de "apóstolo da paz e da não violência".

"Não conheço ninguém mais digno do Prêmio Nobel da Paz do que este gentil monge budista do Vietnã", escreveu King em uma carta de indicação ao comitê da láurea. O Nobel não foi entregue a ninguém em 1967, porém.

Enquanto o monge estava nos EUA para se encontrar com King, o governo sul-vietnamita o proibiu de voltar para casa. Esse contexto o transformou em uma voz de liderança de um movimento que ele chamou de "budismo engajado", a aplicação dos princípios budistas à reforma política e social.

Instalou-se à época na França, mas não pôde voltar à terra natal pelo menos até 2005, quando o governo comunista permitiu que ele ensinasse as práticas budistas e viajasse por todo o país.

Os trabalhos de Thich Nhat Hanh e a promoção da ideia de mindfulness e meditação tiveram interesse renovado durante a pandemia de coronavírus.

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