Descrição de chapéu América Latina

Acordo em Honduras encerra racha que elegeu dois presidentes do Congresso

Manuel Zelaya atua para reunificar base da recém-empossada Xiomara Castro; ex-presidente JOH integra lista de corruptos nos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tegucigalpa (Honduras) | AFP

Um acordo costurado entre congressistas rebeldes do partido da presidente de Honduras, Xiomara Castro, e sua base de apoio pode ter encerrado uma crise instalada no Congresso que ameaçava o início do mandato da líder recém-empossada.

No último dia 25, a dois dias da posse de Xiomara, enquanto o Parlamento fazia uma sessão apontando Luis Redondo para chefiar o Congresso, um grupo de 18 deputados do Libre (Libertad y Refundación), sigla da presidente, rebelou-se e, com o apoio de legendas de direita, elegeu Jorge Cálix como líder do Parlamento, em uma reunião paralela num clube.

Na prática, é como se em cerimônias distintas houvesse a instalação de duas legislaturas. Devido ao conflito, quem tomou o juramento da presidente na cerimônia de posse no Estádio Nacional de Tegucigalpa foi uma juíza. Redondo só colocou nela a faixa presidencial.

O ex-presidente Manuel Zelaya e o deputado Jorge Cálix conversam no palácio presidencial antes de acordo para unificar a base parlamentar de Xiomara Castro - Orlando Sierra - 7.fev.22/AFP

Nesta segunda (7), Cálix e os outros 17 dissidentes assinaram um acordo com Manuel Zelaya, marido de Xiomara, ex-presidente do país e coordenador-geral do Libre, em que dizem se comprometer a respeitar a aliança construída por Xiomara.

"Embora no momento não compartilhemos da estratégia proposta [...], estamos dispostos a respeitar a decisão de apoiar o deputado Luis Redondo Guifarro para presidir a junta diretora do Congresso Nacional em cumprimento ao mandato da nossa presidente", diz o acordo.

"Dou um passo ao lado, por ora, em minhas pretensões políticas. Por respeito ao povo, somo-me como deputado do Libre para cumprir minha palavra, dada durante a campanha, de apoiar nossa presidente", afirmou Cálix no texto.

Com o acordo, os rebeldes do partido foram readmitidos aos quadros do partido; eles haviam sido expulsos, em movimento capitaneado pela mandatária eleita, após o racha que deu origem à crise —que chegou a ter momentos de embate físico, com a troca de socos e pontapés no plenário.

Os sinais de uma reaproximação e um possível acordo começaram a ser emitidos já em 26 de janeiro. Na ocasião, um dia antes da posse presidencial, Xiomara publicou uma foto ao lado de Cálix e anunciou que havia proposto que ele integrasse o governo como coordenador de seu gabinete. O deputado, no entanto, recusou a oferta e continuará no Parlamento.

"É necessário que parem de violentar nossa democracia. As decisões do povo têm de ser cumpridas de modo pacífico", disse Xiomara ao reafirmar que considera Redondo, do Partido Salvador de Honduras, o legítimo líder do Legislativo.

Um impasse entre os deputados por óbvio dificultaria a agenda de reformas que a esquerdista vinha prometendo colocar em marcha desde a campanha. Entre os principais desafios de Honduras estão a situação econômica —agravada pela pandemia e por catástrofes climáticas—, que teve uma contração do PIB de 9% em 2020. Segundo o Banco Mundial, mais de 55,4% da população vive abaixo da linha da pobreza. Associadas à violência da disputa entre "maras" (facções criminosas), essas cifras levam milhares de hondurenhos a tentarem emigrar para os EUA.

Uma das reformas prometidas por Xiomara —e que o Partido Nacional, de oposição, deseja interromper no nascedouro— é a que cria um órgão anticorrupção apoiado pelas Nações Unidas. A presidente havia acusado os insurgentes de sua legenda de se aliarem justamente ao PN, de seu antecessor direitista Juan Orlando Hernández.

A líder criticou JOH, como é conhecido o ex-presidente, durante a posse no último dia 27, chamando a situação econômica atual do país de "catástrofe econômica sem paralelo histórico".

Agora, com o Libre, em tese, unificado, a base da esquerdista tem 68 parlamentares, de um total de 128. O PN possui 44 cadeiras do Legislativo.

EUA INCLUEM EX-PRESIDENTE HONDURENHO EM LISTA DE CORRUPÇÃO

Os Estados Unidos confirmaram, nesta segunda-feira, que Juan Orlando Hernández foi incluído em uma lista do governo de "atores corruptos e antidemocráticos" do Triângulo Norte da América Central.

Segundo o secretário de Estado americano, Antony Blinken, o ex-presidente hondurenho, que passou oito anos no poder, foi incluído na lista no dia 1º de julho do ano passado —a informação foi tornada pública nesta semana, sob o argumento de transparência e da "prestação de contas na região". A inclusão geralmente torna a pessoa inelegível para conseguir um visto e entrar nos EUA.

"Ninguém está acima da lei", escreveu Blinken no Twitter.

Em julgamento de um traficante em Nova York, em março do ano passado, a Promotoria acusou JOH de ajudar a levar quilos de cocaína aos EUA. Nas alegações iniciais no tribunal, o promotor Jacob Gutwillig disse que o traficante Geovanny Fuentes subornou autoridades, incluindo políticos, militares, policiais e "até o presidente de Honduras" para proteger seus negócios ilegais.

À época, o então presidente negou as acusações e se apresentou como herói na luta contra o narcotráfico e as gangues violentas do país. Nos últimos dias de seu mandato, JOH vinha buscando acordos que pudessem lhe conferir imunidade, evitando uma possível extradição a Washington.

Seu irmão, Juan Antonio "Tony" Hernández, está preso nos EUA desde 2019.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.