Putin e Macron justificam 'mesa gigante' com recusa em teste de Covid e roubo de DNA

Francês se negou a realizar teste PCR exigido pelo governo russo, que quer manter presidente em 'bolha restrita'

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Paris | Reuters

A longa distância separando o presidente russo, Vladimir Putin, do francês Emmanuel Macron em uma reunião na segunda-feira (7), que gerou sátiras nas redes sociais, teve motivo: Macron não quis realizar um teste RT-PCR russo para detecção do coronavírus com receio de que seu DNA fosse roubado. Por isso, a diplomacia de Moscou o manteve distante de Putin.

A informação foi confirmada à agência de notícias Reuters por dois membros da comitiva de Macron. Um deles disse que a equipe sabia que a decisão implicaria não haver aperto de mãos e o uso de uma mesa longa, mas reforçou que os franceses não poderiam aceitar que médicos russos tivessem contato com o material genético de Macron.

Putin (esq.) conversa com o francês Macron em salão no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou
Putin (esq.) conversa com o francês Macron em salão no Grande Palácio do Kremlin, em Moscou - Sputnik/AFP

O Kremlin confirmou que Macron foi mantido a distância de Putin porque se recusou a realizar um teste russo. O porta-voz Dmitri Peskov disse que entende a posição francesa, mas que era preciso proteger Putin de uma eventual infecção por coronavírus. Por isso, segundo ele, os dois se sentaram em extremidades opostas de uma mesa de 5 metros de comprimento.

Outro membro da comitiva disse à Reuters que Macron fez um teste PCR na França, antes do embarque para a Rússia, e um de antígeno ao desembarcar no país —realizado por seu médico. De acordo com esse diplomata, os russos disseram que Putin precisava ser mantido em uma "bolha restrita".

O gabinete de Macron afirmou que o protocolo russo não seria aceitável ou compatível com as restrições diárias do presidente. Questionadas sobre o receio de roubo da informação genética, as autoridades se limitaram a dizer que o líder francês tem médicos que definem com ele as regras aceitáveis no que diz respeito a seu protocolo de saúde.

A mesa do Kremlin já foi utilizada por Putin em conversas com premiês e jogadores de futebol. Três dias depois da reunião com Macron, aliás, o russo teve um encontro com o presidente do Cazaquistão, Kassim-Jomart Tokaiev, no qual o protocolo foi bem diferente: eles apertaram as mãos e sentaram-se próximos, separados apenas por uma pequena mesa de centro.

Macron foi à Rússia como parte de um esforço diplomático para aliviar a tensão que se desenrola na fronteira com a Ucrânia, onde Moscou concentra tropas. Após uma conversa de mais de cinco horas, Putin reafirmou as exigências para que a Otan, a aliança militar ocidental, esqueça a Ucrânia, e Macron, que o Ocidente não aceita tal demanda.

O líder russo, porém, afirmou que "algumas de suas ideias [de Macron], sobre as quais é provavelmente muito cedo para falar, é bem possível que sejam a base de nossos próximos passos conjuntos".

O francês viajou a Moscou também como parte de um esforço doméstico, uma vez que se aproximam as eleições presidenciais, marcadas para abril. O presidente ainda não lançou oficialmente sua candidatura, mas deve buscar a reeleição e lidera as pesquisas de intenção de voto.

A saída de Angela Merkel, interlocutora mais próxima de Vladimir Putin nos 16 anos em que os dois mandatários coincidiram no poder, do comando da Alemanha, também pesou na equação. Macron busca assumir o papel de porta-voz dos interesses da Europa Ocidental.

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