Spotify condena falas racistas de Joe Rogan, mas veta punição a podcaster

Pivô de crise recente da plataforma de áudio, apresentador pediu desculpas por vídeo

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Reuters

O CEO do Spotify, Daniel Ek, condenou nesta segunda-feira (7) falas racistas do podcaster Joe Rogan, mas afirmou que não removerá da plataforma o programa do apresentador. As duas partes têm um acordo de exclusividade estimado em mais de US$ 100 milhões.

No último sábado (5), Rogan publicou um pedido de desculpas em seu perfil no Instagram devido à divulgação de um compilado de vídeos antigos nos quais ele aparece utilizando a palavra "nigga", forma ofensiva com a qual brancos se dirigiam aos negros na época da escravidão. O termo hoje é usado de forma coloquial no hip-hop, nos Estados Unidos, mas continua soando pejorativo quando proferido por uma pessoa branca.

Joe Rogan durante evento do UFC na Flórida, nos EUA, em 2020
Joe Rogan durante evento do UFC na Flórida, nos EUA, em 2020 - Douglas P. DeFelice - 9.mai.20/AFP

Os comentários feitos por Ek estão em uma carta interna que circulou na empresa, à qual a agência Reuters teve acesso. No texto, o empresário afirma ter sido decisão do próprio Rogan a remoção de episódios de seu podcast da plataforma no último fim de semana.

No sábado, em meio à polêmica pela divulgação do vídeo, o jornal americano The New York Times informou que cerca de 70 episódios do programa "The Joe Rogan Experience" haviam sido deletados pelo Spotify —o serviço de streaming não se pronunciou.

"Ao mesmo tempo que condeno fortemente o que Joe disse, quero deixar um ponto muito claro: não acredito que silenciá-lo seja a melhor resposta", afirmou EK na carta.

O CEO do Spotify também reiterou e defendeu as políticas de moderação de conteúdo do serviço, afirmando que elas devem ser respeitadas quando desobedecidas, mas ponderou sobre o fato de que calar vozes é um terreno instável.

A carta também noticia que a empresa investirá US$ 100 milhões (R$ 530 milhões) em ações para alavancar conteúdos de grupos historicamente marginalizados.

No vídeo do último sábado, de mais de cinco minutos, Rogan pediu "sinceras e humildes desculpas", e afirmou que o compilado com as falas racistas era a "coisa mais lamentável e vergonhosa" que ele teve de tratar publicamente. "Nunca usei [termos racistas] para ser racista, porque não sou racista", declarou. "Mas toda vez que você está em uma situação em que tem de dizer que não é racista, você errou feio."

Com 11 milhões de ouvintes estimados a cada episódio só no Spotify, "The Joe Rogan Experience" está ainda no centro de uma outra polêmica com o Spotify depois de um episódio ter sido denunciado por um grupo de cientistas e profissionais de saúde, que alegaram que o programa apresentou dados falsos sobre vacinas e a Covid-19.

Em uma entrevista de três horas com o imunologista Robert Malone, a atração traça paralelos entre a Alemanha nazista e os EUA de hoje. O convidado afirma ainda que a sociedade está sendo "hipnotizada" em relação ao combate à pandemia. O streaming de áudio optou por manter o episódio na plataforma —movimento contrário ao do YouTube, que derrubou o conteúdo no canal oficial do programa e as tentativas de outros usuários de fazerem upload do vídeo.

O músico Neil Young, então, exigiu que a plataforma tomasse providências contra o podcast, sob ameaça de que ele retiraria suas músicas do serviço caso o programa de Rogan não fosse banido.

Ele havia rotulado o Spotify como "lar da desinformação sobre Covid que coloca vidas em risco." Em nota, a plataforma defendeu Rogan, embora reiterando sua política de moderação de conteúdo. "Lamentamos a decisão de Neil de remover sua música do Spotify", afirmou a empresa, em nota. "Mas esperamos recebê-lo de volta em breve."

Joni Mitchell e outros músicos depois se juntaram a Neil Young ao pedir que o Spotify retirasse suas músicas. "Pessoas irresponsáveis ​​estão espalhando mentiras que estão custando a vida das pessoas", escreveu Mitchell em seu site oficial. Ela ainda disse ser "solidária a Neil Young e às comunidades científicas e médicas globais nesta questão".

Depois de anunciar que todos os podcasts que mencionarem a Covid terão links com informações factuais, cientificamente comprovadas sobre a pandemia —algo semelhante ao que acontece em redes sociais como o Instagram—, a plataforma disse que já foram removidos mais de 20 mil episódios relacionados ao coronavírus devido à desinformação.

O app chegou a perder mais de US$ 2 bilhões em valor de mercado após a polêmica.

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