BBC usa rádio de ondas curtas para alcançar Ucrânia e provoca ira da Rússia

Método de transmissão aposentado havia 14 anos pelo veículo britânico é usado para chegar a ouvintes em zonas de conflito há décadas

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Tiffany Hsu
The New York Times

Enquanto a Rússia tenta cortar o fluxo de informações na Ucrânia atacando sua infraestrutura de comunicação, a rede de notícias britânica BBC está reutilizando uma tática de transmissão muito popular na Segunda Guerra Mundial: o rádio de ondas curtas.

A BBC disse nesta semana que usaria frequências de rádio que podem percorrer longas distâncias e ser acessadas por rádios portáteis para transmitir suas notícias do Serviço Mundial em inglês durante quatro horas por dia em Kiev, a capital ucraniana, e em partes da Rússia.

Principal torre de rádio e televisão de Kiev foi atingida por projéteis russos
Principal torre de rádio e televisão de Kiev foi atingida por projéteis russos - Carlos Barria-1º.mar.2022/Reuters

"É comum se dizer que a verdade é a primeira vítima da guerra", disse Tim Davie, diretor-geral da BBC, em comunicado. "Em um conflito em que a desinformação e a propaganda são pródigas, existe a clara necessidade de notícias factuais e independentes nas quais as pessoas possam confiar."

Na terça-feira (1º), projéteis russos atingiram a principal torre de rádio e televisão de Kiev. Oleksii Reznikov, ministro da Defesa da Ucrânia, escreveu no Twitter que o objetivo da Rússia era "quebrar a resistência do povo e do exército ucranianos", começando com "uma ruptura de conexão" e "a disseminação maciça de mensagens falsas de que a liderança do país ucraniano aceitou desistir".

O rádio de ondas curtas tem sido um veículo útil para alcançar ouvintes em zonas de conflito há décadas, para entregar despachos crepitantes a soldados na Guerra do Golfo, enviar códigos para espiões na Coreia do Norte e informar através da Cortina de Ferro durante a Guerra Fria. Mas as formas mais modernas de rádio, juntamente com a internet, acabaram tirando de cena as ondas curtas; a BBC aposentou suas transmissões de ondas curtas na Europa há 14 anos.

Na última semana de fevereiro, a audiência do site em ucraniano da BBC mais que dobrou em relação ao ano anterior, para 3,9 milhões de visitantes, disse a emissora. A BBC também oferece cobertura de notícias no país por meio de seu site e de redes como YouTube, Facebook, Twitter, Telegram, Viber e Espreso TV.

Milhões de russos também estão recorrendo à BBC, disse a emissora. A audiência de seu site de notícias em russo atingiu um recorde de 10,7 milhões na semana passada, mais do que triplicando sua média semanal até agora em 2022, disse a empresa. Os visitantes do site em inglês da BBC dentro da Rússia aumentaram 252%, para 423 mil.

No país, a BBC também publica atualizações no Telegram, Instagram, Facebook e YouTube. Outros meios de comunicação ocidentais também experimentaram um aumento na audiência. As visitas às plataformas digitais do jornal inglês The Guardian pelos públicos russo e ucraniano aumentaram 180% em relação a janeiro.

A cobertura da BBC causou reclamações de autoridades russas. Maria Zakharova, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, disse durante uma entrevista coletiva transmitida pela RT, o meio de comunicação russo apoiado pelo Kremlin, que o país foi vítima de "terrorismo de informação sem precedentes", que era "dedicado a desacreditar as ações russas" e "criar histeria em torno de acontecimentos ucranianos".

A BBC "exerce um papel decidido a minar a estabilidade e a segurança russas", disse Zakharova, sem apresentar evidências.

No início da sexta-feira (4), o serviço russo da BBC relatou problemas de acesso a seu site na Rússia.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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