Ex-esposa do emir de Dubai, acusado de violência doméstica, obtém custódia dos filhos

Júri de Londres diz que xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum tinha comportamento controlador com princesa

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Londres | Reuters

Como desenrolar de uma disputa judicial que há anos opõe o emir de Dubai e premiê dos Emirados Árabes Unidos, xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, e sua ex-esposa, a princesa Haya bint al-Hussein, em tribunais do Reino Unido, um júri londrino decidiu nesta quinta (24) que Haya terá a custódia dos dois filhos do casal.

A decisão foi fundamentada com argumentos de que o emir praticou violência doméstica contra a princesa, meia-irmã do rei Abdullah, da Jordânia, e demonstrou de maneira consistente um comportamento controlador contra membros da família que o desafiavam.

A princesa Haya bint al-Hussein, meia-irmã do rei Abdullah da Jordânia e ex-esposa do xeque Mohammed bin Rashid al-Maktoum, em Londres - Henry Nicholls - 26.fev.20/Reuters

"Embora em uma escala totalmente fora da observada nos casos ouvidos nessa jurisdição, o comportamento do pai em relação à mãe de seus filhos configura abuso doméstico", disse Andrew McFarlane, juiz presidente da Divisão da Família da Inglaterra e do País de Gales.

Trata-se do segundo revés para al-Maktoum nos últimos meses. Em dezembro do último ano, ele foi condenado a pagar mais de 554 milhões de libras (R$ 3,4 bilhões) à ex-esposa e aos dois filhos —de 14 e 10 anos—, valor considerado recorde em indenizações por divórcio concedido por uma corte londrina.

Na ocasião, o tribunal decidiu que o governante de Dubai fez Haya temer por sua vida e que ele representava um "grave risco" para as crianças. Por isso, a maior fatia do montante da indenização bilionária foi destinado justamente para a segurança da família, como contratação de guardas e carros blindados.

Em comunicado posterior, o xeque, que não participou das audiências, negou as alegações, disse que amava os filhos e sempre os sustentaria. Haya, por sua vez, agradeceu à Justiça britânica e afirmou que criaria as crianças respeitando as tradições de seus países de origem.

O juiz McFarlane reforçou que as ações de al-Maktoum contra a ex-esposa configuram um abuso "exorbitante", listando ameaças, espionagens e invasão de privacidade por parte do governante.

A saga do processo judicial começou após Haya fugir para o Reino Unido, em abril de 2019, temendo por sua segurança após o marido descobrir que ela estava tendo um caso com um guarda-costas. Ela relata que, mais tarde, foi chantageada por membros de sua equipe de segurança e que o xeque orquestrou uma campanha de intimidação contra ela, além de ter hackeado seu telefone e o de seus advogados.

A Divisão da Família da Inglaterra já havia confirmado que al-Maktoum ordenara que os telefones de Haya e de seus advogados fossem hackeados com o Pegasus, software israelense considerado uma das armas de espionagem digital mais modernas.

Esse não é o primeiro caso em que o xeque é acusado de intimidar e tentar controlar familiares. Ele já foi condenado por sequestrar e maltratar duas de suas filhas de outro casamento —as princesas denunciaram o crime orquestrado pelo pai à rede britânica BBC, que divulgou as acusações em um de seus principais programas jornalísticos, em fevereiro de 2021.

As decisões contra al-Maktoum, porém, não parecem ter afetado as relações bilaterais entre o Reino Unido e os Emirados Árabes Unidos. Rico em petróleo, o país prometeu, em setembro passado, investir cerca de US$ 13,6 bilhões (R$ 64 bi) em energia limpa britânica. Já o premiê britânico, Boris Johnson, em visita recente a Abu Dhabi, descreveu o país como um parceiro internacional importante.

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