Refugiados consideram brasileiros acolhedores, mas sofrem discriminação, diz pesquisa

Levantamento ouviu 500 imigrantes de países como Venezuela, Congo e Síria

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São Paulo

Refugiados que vivem no país consideram os brasileiros solidários e acolhedores, mas muitos relatam ter sofrido discriminação por sua nacionalidade ou sua raça, especialmente os que vêm de países da África, mostra uma pesquisa que avaliou a percepção e as dificuldades vividas por esses imigrantes.

O levantamento, realizado pela ONG Estou Refugiado com o Instituto Qualibest entre janeiro e setembro de 2021, entrevistou 503 refugiados ou solicitantes de refúgio.

Venezuelanos na cidade de Pacaraima, em Roraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela
Venezuelanos na cidade de Pacaraima, em Roraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela - Nacho Doce - 9.ago.18/Reuters

A amostra não é representativa dessa população, mas tem um perfil semelhante ao da média desses imigrantes, com a maioria tendo vindo da Venezuela (61%) e morando em Boa Vista (39% do total) ou em São Paulo (34%). Os demais são angolanos, congoleses, sírios e de países como Colômbia e Cuba, e o tempo em que estão no Brasil varia de seis meses a sete anos.

Questionados sobre pontos positivos e negativos dos brasileiros, a maioria disse considerá-los solidários (62%) e acolhedores (59%). Mais de 40% dizem não ver pontos negativos, mas, entre os demais, os defeitos mais associados foram o de serem relapsos (23%), briguentos (19%) e preconceituosos (18%).

No geral, 47% disseram ter sofrido algum tipo de discriminação no país, especialmente relacionada à nacionalidade e à raça. Entre os refugiados africanos o percentual é bem maior: 64%.

Os dois maiores fatores apontados como motivadores para migrar foram crises econômicas –especialmente no caso dos venezuelanos– e perseguição política ou guerras.

Eles dizem ter escolhido o Brasil como destino principalmente por terem parentes ou amigos no país e pela ideia de que seria mais fácil encontrar trabalho (23%), algo que nem sempre se confirma na prática: metade dos entrevistados considera difícil ou muito difícil encontrar empregos no Brasil, e esse foi o principal fator mencionado por eles entre os maiores problemas que enfrentam.

Além da falta de vagas disponíveis, citam como entraves para a colocação no mercado de trabalho o fato de não conhecerem ninguém (35%), problemas com o idioma (33%) ou para revalidar seus diplomas (28%), além da discriminação contra imigrantes por parte dos empregadores (25%).

Metade dos entrevistados tem curso superior completo ou incompleto, 7%, pós-graduação, e 29%, ensino médio, o que confirma estudos anteriores que mostram os refugiados como mais escolarizados que a média nacional.

Muitos refugiados (48%) disseram ter aprendido português sozinhos, no dia a dia –mais de 70% afirmaram ter um relacionamento próximo com brasileiros. Os que fizeram curso do idioma estudaram, em média, sete meses. Só 30% deles não tiveram nenhuma ajuda ao chegar ao Brasil. Entre os demais, a maioria foi atendida por ONGs, igrejas ou mesquitas. O sentimento predominante na chegada foi saudade da família (49%), seguido pelo o de alívio (33%), alegria (30%) e medo (29%).

Mais de 75% dos entrevistados disseram que seu maior desejo é dar uma vida melhor aos filhos, e 30% não querem voltar ao país de origem nem mesmo temporariamente.

Segundo Luciana Capobianco Maltchik, presidente da Estou Refugiado, as dificuldades relacionadas à língua ou para revalidar os diplomas e o desconhecimento por parte das empresas sobre como contratar imigrantes são alguns entraves para a inserção deles no mercado de trabalho.

A ONG faz a ponte entre as companhias e os refugiados, para tentar minimizar essas barreiras. "A gente tem recebido um retorno muito positivo das empresas. A diversidade de pessoas oriunda de outros países traz uma bagagem cultural muito benéfica para o ambiente de trabalho", afirma.

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