Conselheiros dizem que Trump ignorou alertas de que alegações de fraude eram falsas

Para ex-procurador-geral, republicano 'perdeu o contato com a realidade'; ex-presidente critica investigação do Congresso

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Washington | Reuters

Os principais conselheiros do ex-presidente americano Donald Trump alertaram o republicano que suas alegações de fraude nas eleições de 2020 eram infundadas e não reverteriam sua derrota, mas o então mandatário se recusou a ouvi-los, de acordo com depoimentos prestados nesta segunda-feira (13) ao comitê que investiga o motim de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio dos EUA.

Assessores e familiares afirmaram terem alertado o ex-presidente que não encontraram mérito em uma ampla gama de alegações após sua derrota no pleito, incluindo relatos de uma mala suspeita com cédulas falsas, um caminhão transportando votos para a Pensilvânia e chips de computador trocados por urnas.

Audiência de comitê que investiga a invasão ao Capitólio dos Estados Unidos - Jabin Botsford/Reuters

Para William Barr, que atuou como procurador-geral no governo Trump e era considerado leal ao ex-presidente, o republicano "perdeu o contato com a realidade". "Pensei: 'Rapaz, se ele acredita nessas coisas, ele perdeu contato com a realidade'", disse, em depoimento no qual chamou as alegações de fraude de maluquices. "Nunca houve indícios de algum interesse em quais eram os fatos reais."

Os depoimentos foram prestados na segunda de seis sessões que o comitê deve fazer neste mês para apresentar os resultados de quase um ano de investigações sobre o motim. Na quinta (9), outra sessão mostrou que aliados do ex-presidente, incluindo sua filha Ivanka, também rechaçaram as alegações. Quase 20 milhões de americanos assistiram à audiência, transmitida no horário nobre da televisão.

Nesta segunda, o colegiado apontou que o ex-presidente ignorou os avisos de seu entorno quando fez as acusações de fraude e mesmo assim incitou apoiadores a se dirigir até o Capitólio. "Ele e os conselheiros mais próximos sabiam que essas alegações eram falsas, mas continuaram a sustentá-las a qualquer preço, até momentos antes de uma multidão de apoiadores de Trump atacar o Congresso", disse o órgão.

Segundo o colegiado, Trump arrecadou US$ 250 milhões de apoiadores para levar à Justiça as alegações de fraude, mas direcionou grande parte do dinheiro para outros fins. O político nega irregularidades, insistiu reiteradas vezes que não perdeu a eleição e chama a investigação legislativa de caças às bruxas.

Nesta segunda, o ex-presidente divulgou uma carta de 12 páginas na qual afirma que as investigações são um "escárnio" e "arremedo" de Justiça. Ele voltou a repetir, sem provas, que houve fraude no pleito. "Os americanos apareceram em Washington em grande número em 6 de janeiro de 2021 para responsabilizar os funcionários eleitos pelos sinais claros de atividade criminosa ao longo da eleição", escreveu.

Pesquisas mostram que muitos dos apoiadores do ex-presidente ainda dizem acreditar nas falsas alegações sobre o pleito de 2020 —parte deles hoje concorre a cargos de supervisão das futuras eleições. Trump sugeriu concorrer à Presidência novamente em 2024, mas não anunciou nenhuma decisão.

Bill Stepien, gerente de campanha de Trump, disse ao comitê que, na noite da eleição, sugeriu que o ex-presidente evitasse qualquer pronunciamento de vitória e que dissesse apenas que a apuração estava em andamento. "Ele pensou que eu estava errado. Ele me disse isso, e que eles iriam, que ele iria em uma direção diferente", afirmou em depoimento gravado em vídeo.

Trump foi à TV declarar vitória preventivamente a pedido de Rudolph Giuliani, seu advogado e ex-prefeito de Nova York. O consultor de campanha Jason Miller afirmou em depoimento que Giuliani não estava sóbrio na época. "O [ex-]prefeito [de Nova York] estava definitivamente embriagado, mas eu não sabia o nível de embriaguez dele quando ele falou com o presidente", disse Miller no vídeo pelo qual testemunhou.

Quatro pessoas morreram no dia do ataque ao Capitólio, uma delas baleada pela polícia. Cerca de 140 policiais ficaram feridos e um morreu no dia seguinte. Quatro oficiais morreram mais tarde por suicídio. Quase 850 pessoas foram presas por crimes relacionados ao motim, incluindo mais de 250 acusados ​​de agredir ou impedir a aplicação da lei.

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