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Abe fez da mudança da política de Defesa do Japão um legado

Ex-premiê criou órgãos de segurança e reinterpretou Constituição pacifista para expandir atuação militar do país

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Alexandre Uehara

Coordenador do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos e professor de relações internacionais da ESPM

Um dos expoentes da política japonesa contemporânea, Shinzo Abe, morto nesta sexta-feira (8), tinha como plataforma política revitalizar o status internacional do Japão, enfraquecido desde o estouro da bolha econômica em 1991. Para tal, destacou duas áreas de atuação, a econômica e a de segurança.

Na área econômica, suas iniciativas ficaram popularmente conhecidas como Abenomics e refletiam suas características pessoais, como a disposição para assumir riscos, pois eram soluções heterodoxas, que buscavam a elevação da inflação e o aumento dos gastos públicos para dinamizar a economia japonesa.

O ex-premiê do Japão Shinzo Abe durante entrevista coletiva em Tóquio
O ex-premiê do Japão Shinzo Abe durante entrevista coletiva em Tóquio - Toru Hanai - 25.set.17/Reuters

Na área da segurança, por outro lado, suas ações nem sempre ficaram muito conhecidas. Um elemento que norteou seu projeto foi a revisão do artigo 9 da Constituição japonesa, que não conseguiu alterar, mas por meio da qual sinalizou o desejo de fazer com que o Japão restabeleça a igualdade de condições de defesa em relação a outros países, pois essa legislação restringe o uso da força militar fora do território.

Em 2006, já no primeiro mandato, apresentou a política do "Arco da Liberdade e Prosperidade", que tinha como objetivo estratégico fortalecer as relações com nações parceiras e estender o alcance diplomático do Japão a outras regiões. Ao mesmo tempo, visava a contenção da China e da Rússia, que não seriam incluídas entre os países que priorizam a liberdade e a democracia. Em 2007, transformou a Agência de Defesa em Ministério da Defesa, uma elevação de status do órgão e outra demonstração de sua política.

No segundo mandato, mais longo, Abe trouxe novos avanços nas estruturas internas de segurança. Em 2013, criou o Conselho de Segurança, que fortaleceu o papel do premiê na área, e a Estratégia Nacional de Segurança, que contém os fundamentos do pacifismo proativo, denominação dada à política externa que o Japão vem desenvolvendo para contribuir com a manutenção da estabilidade e da ordem internacional.

E, de maneira prática, o ex-premiê apresentou sua liderança no estabelecimento da parceria do Diálogo Quadrilateral sobre Segurança (Quad) que envolve também Estados Unidos, Índia e Austrália. Esse acordo fundamenta a política do Indo-Pacífico Livre e Aberto (FOIP, na sigla em inglês), que tem o compromisso de defender a democracia e promover a prosperidade na região do Indo-Pacífico.

Foi também com Abe, em 2014, que o governo japonês reinterpretou a Constituição pacifista do país para permitir que suas tropas ajudassem aliados sob ataque, ampliando a capacidade de atuação externa.

Assim, sua influência não só foi significativa como ainda pode resultar em novas mudanças nas políticas de segurança do Japão, como no aumento do Orçamento de Defesa, algo que está em discussão.

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