Descrição de chapéu Mercosul América Latina

Ataque a Cristina não tem ligação com bolsonarismo, diz senador argentino

Para Luis Naidenoff, atentado só diz respeito à Argentina e demora em manifestação de Bolsonaro é lamentável

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Santiago

Senadores da oposição e do governo da Argentina se uniram em solidariedade a Cristina Kirchner, vítima de um ataque na noite desta quinta-feira (1º). Um deles, Luis Naidenoff, da União Cívica Radical —partido opositor do peronismo— afirma que o momento de gravidade que vive a Argentina está relacionado a "uma escalada da violência no debate político que não mede as consequências".

Para Naidenoff, o atentado é uma particularidade da situação argentina. À Folha, o senador diz que está ciente de especulações feitas no Brasil devido à nacionalidade do homem que atacou a vice-presidente, mas descarta outras ligações com o cenário do vizinho. "O ambiente de confrontação que permitiu o terrível incidente corresponde apenas à realidade local", afirma.

Policiais montam guarda enquanto pessoas se reúnem perto da casa da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, após um homem tentar atirar contra ela - Agustin Marcarian - 01.set.22/Reuters

"Sabemos que Bolsonaro vem fazendo declarações contra o peronismo, mas daí a associar as atitudes do agressor ao bolsonarismo é precipitado e raso."

Por trás da tentativa de disparo contra Cristina está, segundo o senador, "uma fricção que tem como lógica a identificação de inimigos". "Quando isso é somado à alta inflação, uma situação de carestia profunda, de uma péssima administração da pandemia, abrimos espaço para que algo assim aconteça", afirma, em tom crítico ao governo de Alberto Fernández.

Assim como outros líderes opositores, Naidenoff condenou o atentado, mas não está de acordo com o fato de o presidente ter declarado feriado nacional nesta sexta-feira (2) e convocado a militância para marchas e manifestações nas ruas de Buenos Aires.

"Nós deveríamos todos estar de pé hoje e trabalhando, tanto opositores como governistas. O presidente se equivoca ao apontar inimigos como fez em cadeia nacional, acusando imprensa, Justiça e opositores de insuflar o discurso de ódio", argumenta Naidenoff. "Em tempos como os que vivemos, é preciso chamar à moderação e à cordura, e isso cabe à classe política, aos dirigentes antes de qualquer um."

O senador argentino descreveu como lamentável a demora de Bolsonaro para se manifestar, enquanto várias lideranças dirigiram empatia a Cristina Kirchner. "Isso corre por conta dele, mas acredito que, antes de mais nada, é preciso fazer um gesto de solidariedade, mostrar humanidade, nada pode vir antes disso. Depois façamos as críticas políticas."

O presidente brasileiro falou sobre o caso na tarde desta sexta, mais de 12 horas depois do ataque.

O ataque sofrido por Cristina ocorreu na noite desta quinta-feira. Imagens mostram a ex-presidente sendo saudada por uma multidão de apoiadores ao sair do carro próximo a sua casa, no bairro da Recoleta, quando um homem se aproxima e tenta atirar com uma pistola a menos de 1 metro do rosto dela.

O homem, identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, é um brasileiro de 35 anos com antecedentes criminais. O agressor usava touca e máscara, e teria saído correndo depois de tentar atirar, mas foi seguido por cinco pessoas e preso.

O episódio colocou em evidência falhas de segurança que teriam permitido que Sabag ficasse a centímetros da vice-presidente. O desfecho só não foi mais grave porque a arma que ele usava, uma pistola Bersa automática calibre 32, teria falhado.

Na madrugada desta sexta, horas após o ataque, policiais realizaram uma operação em uma casa do brasileiro, onde apreenderam um notebook e cem balas de calibre 9 milímetros.

A juíza responsável pelo caso, María Eugenia Capuchetti, foi à sede da Polícia Federal argentina para colher o depoimento de Sabag por volta das 21h desta sexta (2), mas ele se recusou a ser interrogado, segundo a imprensa local. A vice-presidente contou sua versão do caso pela manhã, em sua casa, que ela transformou numa espécie de quartel-general nas horas após o crime. Segundo o jornal argentino La Nación, ela relatou não ter se dado conta de que uma arma havia sido apontada perto de seu rosto, só percebendo o que acontecera ao chegar em casa.

Em conversa com a magistrada, Alberto Fernández pediu que a vida do acusado seja preservada a fim de esclarecer rapidamente os fatos.

O ataque está sendo tratado como tentativa de homicídio qualificado.

Há mais de uma semana, a residência de Cristina na Recoleta se transformou em ponto de encontro de manifestantes pró e contra a ex-presidente. Os protestos começaram quando o promotor Diego Luciani pediu uma pena de prisão de 12 anos para a política, que é acusada de chefiar um esquema de associação ilícita e fraude ao Estado no período em que foi presidente (2007-2015).

"Estão esperando que matem um peronista", havia dito na tarde de quinta o filho de Cristina, Máximo Kirchner, referindo-se ao fato de a polícia da cidade de Buenos Aires, governada pela oposição, ter abandonado a vigilância do local depois dos incidentes da noite do último sábado (27).

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