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Colômbia e guerrilha ELN anunciam retomada de negociações de paz

Delegados de grupo armado se reúnem com enviado de Gustavo Petro na Venezuela

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Caracas | AFP e Reuters

O Exército de Libertação Nacional (ELN), conhecido como a última guerrilha da Colômbia, formalizou nesta terça-feira (4) em Caracas a retomada de negociações de paz com o governo do país. O diálogo havia sido suspenso em 2019 pelo ex-presidente Iván Duque e voltará sob Gustavo Petro, que assumiu o cargo em agosto.

As negociações serão reiniciadas depois da primeira semana de novembro, segundo comunicado emitido pelas partes e lido após uma reunião na capital venezuelana —Bogotá, já com Petro na Presidência, restabeleceu recentemente as relações diplomáticas com o país vizinho.

Além da volta da chamada mesa de discussão, o texto relata a decisão de "retomar todos os acordos e avanços alcançados desde a assinatura da agenda de 30 de março de 2016", em referência à data de abertura das conversas de paz entre o governo e o ELN.

Os líderes do ELN Pablo Beltrán e Antonio Garcia ao lado do alto comissário para a paz da Colômbia, Iván Danilo Rueda, em entrevista coletiva em Caracas - Leonardo Fernández Viloria - 4.out.22/Reuters

"Vamos reiniciar sem modificar o que foi acordado", disse Antonio García, um dos comandantes do grupo. Segundo ele, as reuniões serão feitas em locais rotativos entre três países que seriam garantidores do acordo —Venezuela, Cuba e Noruega—, sem que tenha havido uma definição de onde a primeira rodada acontecerá.

Chile e Espanha, citados anteriormente como possíveis mediadores, não terão participação nesse momento. As conversas anteriores ocorreram inicialmente no Equador e depois em Cuba.

"Para o governo e o ELN, a participação da sociedade será essencial nas mudanças de que a Colômbia precisa para construir a paz", afirmaram as partes no comunicado. Segundo o grupo, o caminho para isso passa por "atacar as causas do conflito armado", não só por baixar as armas, citando a desigualdade social e a falta de democracia.

Petro, primeiro presidente de esquerda do país, reativou os contatos com o ELN logo após assumir o cargo, em 7 de agosto. As negociações entre as partes foram suspensas por Duque em 2019 após um ataque contra uma escola da polícia que deixou 22 mortos, além do agressor.

Desde então, delegados do ELN passaram esse período em Cuba, de onde partiram para a Venezuela no último domingo (2). Danilo Rueda, alto comissário para a paz de Bogotá, havia viajado a Havana dias depois da posse do governo para se encontrar com a cúpula do grupo.

Garcia destacou a disposição de Petro na retomada das negociações. "Com essa oportunidade, as novas circunstâncias políticas da Colômbia permitiram que o diálogo recomeçasse."

Na última quarta (28), Bogotá havia anunciado que pelo menos dez grupos armados do país, incluindo forças dissidentes das Farc e a facção criminosa Clã do Golfo, teriam concordado em aderir a um cessar-fogo unilateral. Questionado nesta terça sobre a proximidade de um acordo bilateral do tipo, o líder do ELN disse que as partes ainda estão na fase de reconstruir a confiança, mas que o que for acertado será cumprido.

Desde a campanha o recém-empossado Petro vinha prometendo buscar o que chamou de "paz total" com esses grupos armados, implementando integralmente um acordo de paz firmado em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia e estabelecendo novos acertos com outras guerrilhas.

Ao voltar da Assembleia-Geral da ONU, o presidente disse que "em uma questão de dias" deveria se abrir a possibilidade de um cessar-fogo, possibilitando o "início do fim da violência" no país.

Nesta terça, as Nações Unidas celebraram a volta das conversas com o ELN. O secretário-geral António Guterres instou as partes "a aproveitar ao máximo essa oportunidade de pôr fim a uma disputa mortal" e se colocou à disposição.

A Colômbia acumula um conflito de seis décadas, que matou pelo menos 450 mil pessoas. Grupos armados ilegais contam com cerca de 6.000 combatentes em suas fileiras, segundo as forças de segurança.

O ELN, fundado em 1964 por sindicalistas, estudantes e religiosos da esquerda radical, conta com estimados 2.500 integrantes. O grupo, acusado de se financiar com narcotráfico, garimpo, sequestros e extorsões, tem presença na fronteira com a Venezuela. Ainda que com menos capacidade de fogo que as antigas Farc, a guerrilha conta com uma base social mais ampla e diversa e um comando mais descentralizado, apesar de contar com porta-vozes como Garcia.

Petro, ele próprio um ex-membro da guerrilha urbana M-19, já afirmou que seu governo estaria disposto a oferecer penas reduzidas a membros de gangues que entregassem bens ilícitos e dessem informações sobre tráfico. "O escritório de paz está estudando mecanismos jurídicos para permitir a transição de grupos armados para o Estado de Direito", afirmou Rueda.

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