Ministro da Justiça do Japão renuncia após fala irônica sobre pena de morte

Yasuhiro Hanashi é o segundo integrante do governo a sair em menos de um mês; premiê adia viagem para conter crise

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Tóquio | Reuters

O ministro da Justiça do Japão renunciou nesta sexta-feira (11) depois de receber críticas devido a uma declaração irônica sobre a pena de morte no país. A saída, a segunda do gabinete do primeiro-ministro Fumio Kishida em menos de um mês, amplia a crise política em torno do governo.

Yasuhiro Hanashi disse que seu cargo tem poucas vantagens políticas e que só é procurado pela mídia quando "aprova uma execução". O ministro ainda chamou as sentenças confirmadas por ele de tediosas.

Então recém-nomeado ministro da Justiça, Yasuhiro Hanashi chega ao escritório do primeiro-ministro, em Tóquio
Então recém-nomeado ministro da Justiça, Yasuhiro Hanashi chega ao escritório do primeiro-ministro, em Tóquio - Kazuhiro Nogi - 10.ago.22/AFP

O Japão permite a aplicação da pena de morte só em casos de assassinatos, e os condenados são mortos por enforcamento. Os prisioneiros só são informados sobre a sentença na manhã do dia de sua execução.

Os comentários, claro, não foram bem aceitos publicamente. Hanashi tentou conter as críticas no Parlamento, Casa na qual pediu desculpas pela declaração. O esforço foi em vão e, nesta sexta, ele disse a repórteres que "deixou cidadãos e funcionários do ministério desconfortáveis" e, por isso, renunciaria.

O agora ex-chefe da Justiça é membro do grupo mais próximo de Kishida no Partido Liberal Democrático (LDP), e sua saída amplia o desgaste do premiê, que viu sua popularidade cair para 30% recentemente.

Ainda nesta sexta, Kishida disse "sentir grande responsabilidade" por ter nomeado Hanashi para o cargo e confirmou a renúncia. Agora, o ex-ministro da Agricultura Ken Saito será o responsável pela Justiça.

Ainda que a troca tenha sido articulada rapidamente, o governo sentiu a pressão política do episódio, e o primeiro-ministro teve de adiar uma viagem que faria nesta sexta-feira para o Camboja, onde se reuniria com líderes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean). No domingo (13), o premiê deve se encontrar com o presidente dos EUA, Joe Biden, e posteriormente com o líder da China, Xi Jinping.

O clamor em torno dos comentários de Hanashi seguem críticas generalizadas ao governo sobre os vínculos de seu partido com a Igreja da Unificação, considerada uma seita por parte da população japonesa. A instituição está no cerne do assassinato do ex-premiê Shinzo Abe em julho –o criminoso alega que sua mãe foi à falência após doar grandes quantias de dinheiro à igreja.

Desde então, o LDP tenta provar que a Unificação não tem elos com a sigla, ainda que vários de seus filiados frequentem os cultos da instituição. Os laços com a instituição acarretaram também na renúncia do então ministro da Revitalização Econômica Daishiro Yamagiwa. Ele pediu afastamento do governo no último dia 24, após pressão de oposicionistas, que o acusavam de mentir sobre seus vínculos religiosos.

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