Putin e líder de Cuba inauguram estátua de Fidel em Moscou e buscam estreitar laços

Díaz-Canel diz que seu país e a Rússia têm inimigo em comum e critica sanções do Ocidente

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Moscou | Reuters

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, recebeu nesta terça-feira (22), em Moscou, o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel, e prometeu aprofundar laços entre os dois países, em meio a um momento de maior isolamento diplomático do Kremlin após reveses na Guerra da Ucrânia.

Em ato simbólico, os dirigentes inauguraram monumento em homenagem a Fidel Castro (1926-2016) em uma praça da capital russa. Curiosamente, Cuba não tem estátuas que celebram o ex-líder; segundo Raúl Castro, irmão e sucessor, Fidel era contra o culto a personalidades —prática comum em outras ditaduras.

Putin defendeu a Díaz-Canel a tese de que os dois países precisam se relacionar sobre a "base sólida da amizade" estabelecida nos tempos da União Soviética. "É uma verdadeira obra de arte —dinâmica, em movimento e avançando. Cria a imagem de um lutador", disse o russo, referindo-se à estátua.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel, observam estátua em homenagem a Fidel Castro, em Moscou
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder de Cuba, Miguel Díaz-Canel, observam estátua em homenagem a Fidel Castro, em Moscou - Seguei Guneev/Sputnik via Reuters

A obra retrata Fidel olhando para longe, com as mãos na cintura. "Acho que reflete sua personalidade na luta", afirmou o atual líder de Cuba. Coube a Díaz-Canel as principais palavras no encontro. Dirigindo-se ao Parlamento russo, ele mostrou solidariedade a Moscou ao endossar diretamente algumas das justificativas declaradas para a invasão da Ucrânia. "As razões do atual conflito devem ser buscadas na política agressiva dos Estados Unidos e na expansão da Otan para as fronteiras da Rússia", afirmou.

O pretexto em certa medida evoca a crise dos mísseis de Cuba, na década de 1960, quando a União Soviética, com apoio de Fidel, instalou mísseis balísticos na ilha como forma de dissuasão contra os Estados Unidos. Na época, os americanos tinham estruturas do tipo na Turquia.

Após aviões identificarem a instalação dos mísseis soviéticos, Washington e Moscou se ameaçaram mutuamente, e um impasse de 14 dias deixou o mundo à beira da guerra nuclear. O acordo para a retirada dos artefatos de Cuba só foi alcançado quando os EUA se comprometeram a não invadir a ilha —secretamente, também concordaram em retirar seus mísseis da Turquia.

O episódio foi, recentemente, citado pelo atual presidente americano, Joe Biden. "Não enfrentamos um possível 'Armagedom' desde [Jonh] Kennedy e a crise dos mísseis", disse o democrata. Em setembro, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL), também fez a comparação.

Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, afirmou que as crises são diferentes —ainda que, segundo ele, os dois conflitos sejam "um choque entre russos e o Ocidente liderado pelos EUA".

Cuba está sob embargo econômico americano desde 1962, e Washington também implementou uma série de sanções contra Moscou após a invasão da Ucrânia. Díaz-Canel chamou os bloqueios de injustos. "Temos um inimigo em comum: o império ianque que manipula grande parte do mundo", disse aos russos.

Putin respondeu dizendo que sempre se opôs "a vários tipos de restrições, embargos, bloqueios".

A viagem do líder cubano, porém, não se baseia só no lema "o inimigo do meu inimigo é meu amigo". Díaz-Canel espera que a visita impulsione o setor energético de seu país, em meio a apagões e à escassez de combustível na ilha. Em um giro internacional ele também deve visitar Argélia, Turquia e China.

Putin, por sua vez, tenta buscar aliados no cenário global e expandir seu mercado de gás e petróleo –prejudicado após o início da guerra no Leste Europeu.

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