Coreia do Norte reforça ameaça nuclear após novo teste de míssil intercontinental

Rússia diz que EUA testam paciência de Pyongyang; lançamento volta a acender alertas no Japão, aliado de Washington

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Moscou e Seul | AFP e Reuters

O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, voltou a colocar cartas nucleares na mesa em ameaças diretas aos Estados Unidos e aliados horas depois de realizar um novo lançamento de míssil balístico intercontinental. Além de renovar tensões na região, o caso gerou uma mistura de tensões diplomáticas, com a Rússia acusando Washington de "testar a paciência" de Pyongyang.

O lançamento do Hwasong-17, que segundo informou a agência estatal KCNA foi supervisionado pelo próprio Kim, ainda contou com a revelação da imagem de uma de suas filhas —que não teve a identidade revelada. Acredita-se que o ditador, cuja vida pessoal é bem pouco conhecida, seja pai ainda de outra menina e um menino, mas a informação jamais foi confirmada oficialmente pela ditadura.

Ao noticiar o teste, já na madrugada de sábado (19) pelo horário local, a mídia norte-coreana divulgou fotos da menina caminhando de casaco branco ao lado do pai, observando o míssil e celebrando o resultado.

A informação de mais um exercício do tipo já havia sido dada pela Coreia do Sul, ainda na noite de quinta (17), com a detecção de "um suposto míssil balístico intercontinental" disparado de Sunan.

O ditador Kim Jong-un ao lado da filha, não identificada, em lançamento de míssil intercontinental na Coreia do Norte, em foto divulgada pela agência estatal do regime - KCNA/Reuters

Segundo o Exército de Seul, o artefato, que é a arma de maior alcance da ditadura do Norte, percorreu cerca de 1.000 quilômetros a uma altitude máxima de 6.100 quilômetros por 69 minutos e caiu no mar, na zona econômica exclusiva do Japão, a cerca de 200 quilômetros da ilha de Hokkaido. O premiê japonês, Fumio Kishida, afirmou que os seguidos disparos feitos por Pyongyang são intoleráveis.

O lançamento foi feito menos de 24 horas após o disparo de um míssil de curto alcance, no que o regime chamou de "resposta mais feroz" a esforços dos EUA para aumentar a presença militar na região. Segundo comunicado norte-coreano, que adotou tom de ameaça, Washington faz uma "aposta da qual se arrependerá".

O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião para discutir o assunto na próxima segunda-feira (21).

No teste intercontinental de quinta, a KCNA disse que que o míssil é de um modelo recém-desenvolvido. Segundo a Defesa do Japão, o artefato de 2,5 metros, com capacidade de portar ogivas nucleares, teria a capacidade de voar até 15 mil quilômetros, potencialmente atingindo a área continental dos EUA.

Além da filha —especulada como sendo Ju Ae, de 12 ou 13 anos—, Kim assistiu ao lançamento ao lado da mulher, Ri Sol-ju, outra presença que costuma ser simbólica.

O ditador exortou o desenvolvimento de armas estratégicas e treinamento de unidades nucleares táticas e disse que tem acelerado esse processo como forma de dissuasão frente a hostilidades americanas. "Se as ameaças dos inimigos continuarem, responderemos com confronto e armas nucleares. Movimentos contra a Coreia do Norte levarão à autodestruição", disse, segundo a KCNA.

Mais cedo, após o artefato cair na costa do Japão, o vice-chanceler russo Serguei Riabkov disse à agência de notícias RIA que o Kremlin acompanha a situação com preocupação e se mantém "fiel a uma solução diplomática" para a península coreana, mas cutucou Washington. "Os EUA e seus aliados na região preferem um caminho diferente, como se estivessem testando a paciência de Pyongyang."

A ditadura norte-coreana já realizou em 2022 mais de 40 lançamentos, renovando ameaças da forma mais intensa desde 2017. No começo do mês, um disparo chegou a gerar alerta de abrigo a moradores de partes do Japão. Um dos projéteis usados no teste aparentemente era um míssil intercontinental que falhou.

Ainda nesta sexta, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que o míssil disparado por Pyongyang não ameaça os EUA, ainda que, segundo a agência de notícias Reuters, o artefato possa atingir a parte continental do país.

Mais cedo, a vice-presidente Kamala Harris disse que o teste "desestabiliza a segurança na região e aumenta desnecessariamente as tensões". O comunicado foi feito às margens de uma cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico) em Bancoc, após reunião entre Kamala e autoridades de Austrália, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Nova Zelândia –principais aliados dos americanos na região.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, também condenou o lançamento, instando Pyongyang a desistir de tomar ações de provocação.

No último dia 12, em uma reunião com o líder chinês, Xi Jinping, o presidente americano, Joe Biden, reforçou a mensagem de que, se a Coreia do Norte seguir com os lançamentos de mísseis, a presença dos EUA na região será maior.

No mês passado, Washington reagiu ao disparo de um míssil de alcance intermediário que sobrevoou o Japão com o envio de um porta-aviões para a região e exercícios de bombardeio com japoneses e sul-coreanos. Pyongyang revidou com mais mísseis balísticos e treinos com caças.

Reuniões entre EUA e Rússia

Na mesma entrevista em que acusou os EUA de testarem a paciência dos norte-coreanos, e a poucos dias de uma reunião marcada no Cairo entre Moscou e Washington para discutir a questão da proliferação nuclear, Riabkov acrescentou que não descarta novos encontros de alto nível sobre o que chamou de estabilidade estratégica. "Se os americanos mostrarem interesse e prontidão, não recusaremos", afirmou.

O termo "estabilidade estratégica" é usado pelas duas maiores potências nucleares do mundo em referência à redução do risco de uma guerra nuclear.

O encontro na capital egípcia, previsto para o período de 29 de novembro a 6 de dezembro, tem o objetivo de discutir o tratado Novo Start de redução de armas nucleares.

Quando o assunto é a Guerra da Ucrânia, porém, Riabkov já havia sinalizado anteriormente que não havia nada para conversar com os EUA. "Simplesmente não pode haver diálogo, muito menos negociações, dadas as posições opostas radicais", disse à Interfax.

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