Descrição de chapéu Governo Biden

Senadora nos EUA muda de partido e ameaça maioria democrata

Kyrsten Sinema deixa os democratas e se registra como independente

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Washington

A senadora americana Kyrsten Sinema anunciou nesta sexta (9) sua saída do Partido Democrata, tornando-se independente, sem ligação com nenhuma legenda. A decisão representa uma reviravolta que pode ameaçar a maioria absoluta que o grupo do presidente Joe Biden conquistou nas midterms.

Sinema, 46, senadora pelo Arizona, no sudoeste do país, mais ligada ao centro, divulgou a mudança na mesma semana em que os democratas venceram a disputa pela cadeira da Geórgia, o que garantiria 51 assentos ao partido a partir do ano que vem, um a mais do que tem hoje.

A senadora americana Krysten Sinema, que anunciou nesta sexta que deixará o Partido Democrata - Tom Brenner/Reuters

Com a mudança, a expectativa era a de que a legenda tivesse mais agilidade para aprovar projetos da agenda de Biden, sem que uma ou outra dissidência atrapalhasse o andamento das pautas —como ocorreu uma série de vezes com o senador Joe Manchin, o mais conservador dos democratas.

Já existem dois senadores independentes no Senado americano, Bernie Sanders (Vermont) e Angus King (Maine), mas, de tendências progressistas, ambos votam com os democratas e até participam regularmente de um fórum semanal do partido, o que os faz serem contados no balaio da legenda.

Sinema, contudo, não disse se seguirá a mesma linha e se votará sempre com os democratas, abrindo dúvidas sobre como será o panorama no Senado no ano que vem. Em entrevista ao portal americano Politico, ela afirmou, por outro lado, que não se alinhará automaticamente aos republicanos e que manterá a linha ideológica dos últimos quatro anos. Ela votou pelo impeachment do ex-presidente Donald Trump bem como pela liberação de auxílio durante a pandemia da Covid-19 e em favor de pautas climáticas.

Próxima tanto de parlamentares republicanos quanto de democratas, teve papel crucial em projetos bipartidários como o aperto no controle de armas e a aprovação do casamento gay, na última semana.

A Casa Branca reagiu rapidamente. Em nota na manhã desta sexta, a secretária de imprensa Karine Jean-Pierre afirmou que a senadora foi "uma parceira-chave em legislações históricas" do governo e que entende que a mudança "não vai afetar a nova maioria democrata" na Casa. "Temos todos os motivos para esperar a continuidade do trabalho de modo bem-sucedido com ela."

A decisão foi anunciada em artigo no jornal Arizona Republic, no qual Sinema condenou a exaltação de ânimos da política partidária do país. "Quando políticos estão mais focados em impedir a vitória da oposição do que em melhorar as vidas dos americanos, quem perde são os americanos comuns", escreveu.

"Nenhum dos partidos demonstrou muita tolerância com a diversidade de pensamento. Acordos bipartidários são vistos como um último recurso raramente aceitável, em vez de a melhor maneira de alcançar progresso duradouro. A vingança contra a oposição substituiu a legislação cuidadosa."

À CNN a senadora afirmou que nunca tentou se encaixar "na caixinha" de nenhum partido. "Retirar meu nome de uma estrutura partidária não é só honesto com quem sou e com a forma como trabalho. Passará a imagem de pertencimento para muita gente pelo estado e pelo país que também está cansado de partidarismo."

Sinema começou a carreira política no Partido Verde, defendendo pautas progressistas, sobretudo os direitos da comunidade LGBTQIA+. Era filiada ao Partido Democrata desde 2004 e foi eleita pela primeira vez em 2012 para a Câmara dos Representantes. Depois de três mandatos como deputada (que nos EUA são de dois anos), Sinema foi eleita em 2018 senadora pelo Arizona, para um mandato de seis anos.

Isso significa que ela deve disputar novamente uma eleição em 2024, desta vez sem o peso do Partido Democrata. Desde os anos 1970, o estado só votou em democratas para a Presidência em duas ocasiões: na segunda eleição de Bill Clinton, em 1996, e na de Biden, em 2020. No pleito legislativo do mês passado, porém, o estado reelegeu um senador democrata, Mark Kelly, e uma governadora do mesmo partido, Katie Hobbs —esta com margem apertada, de 0,3 ponto percentual.

A última vez que um senador trocou de lado foi em 2009, quando Arlen Specter, da Pensilvânia, deixou os republicanos e se tornou democrata. Em 2006, Joe Lieberman, de Connecticut, fez o mesmo movimento de Sinema, deixando os democratas e se registrando como independente.

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