Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski faz primeiro expurgo no governo desde a invasão da Rússia

Autoridades e governadores são retirados sob acusação de corrupção e má gestão, o que sugere disputa interna

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São Paulo

A um mês do aniversário de primeiro ano da invasão russa da Ucrânia, o governo de Volodimir Zelenski iniciou um expurgo de autoridades acusadas de corrupção ou má gestão. Membros de ministérios e pelo menos cinco governadores regionais foram demitidos ou deixaram seus cargos.

O verniz daquilo que o assessor presidencial Mikhailo Podoliak chamou de sintonia do chefe com os desejos da sociedade parece aplicado para aplacar as críticas constantes de governos ocidentais acerca do grau de corrupção do governo, abafadas pela necessidade de união contra os russos.

Zelenski durante entrevista coletiva em Kiev na semana passada
Zelenski durante entrevista coletiva em Kiev na semana passada - Serguei Supinski - 19.jan.23/AFP

A mudança vem justamente quando a Otan, a aliança militar do Ocidente, debate intensamente os prós e os contras de escalar sua ajuda militar a Kiev com o envio de tanques de guerra alemães para o conflito.

Além disso, a Rússia tem tido suas primeiras vitórias em meses, no leste e no sul do país, colocando pressão sobre o governo, e a infraestrutura ucraniana sente o peso dos ataques constantes de Moscou: nesta terça (24), Lviv ficou no escuro por falta de condições de atender o consumo de eletricidade.

Por outro lado, pelo mesmo congelamento das tensões internas na Ucrânia devido à invasão, Zelenski pode estar promovendo o expurgo para alinhar forças em torno de si. O impacto da guerra costuma ofuscar o fato de que o presidente era impopular e enfraquecido pela luta entre facções de seu governo.

"As decisões de Zelenski testemunham as prioridades chave do Estado. O presidente ouve a sociedade e responde diretamente a uma demanda pública central: justiça para todos", disse na segunda Podoliak.

O discurso cai como música em Bruxelas e Washington, mas sugere que a posição de Zelenski seja mais instável do que sua persona como comandante sugere. O quadro deve ficar mais claro nos próximos dias.

A cabeça mais vistosa até aqui é a de Kirilo Timochenko, um aliado da campanha eleitoral do presidente em 2019 que era o adjunto da chefia de gabinete de Zelenski. Ao longo da guerra, ele foi criticado pela mídia local por se deixar fotografar dirigindo carros esportivos.

Houve duas baixas mais sérias por acusações de corrupção: o vice-ministro da Defesa, Viacheslav Chapovalov, foi acusado de inflacionar preços de comida para tropas, e o vice-ministro das Regiões, Vasil Lozinski, admitiu ter recebido US$ 400 mil (R$ 2,1 milhões) em suborno.

Caíram também o procurador-geral adjunto, Oleskii Simonenko, que tirou férias na Espanha com a família recentemente, e vice-ministros do Desenvolvimento, da Comunidade, da Economia e da Política Social, todos por má gestão e suspeitas de corrupção.

De forma significativa, foram afastados os governadores de Kiev, Dnipopetrovsk, Sumi, Kherson e Zaporíjia, as duas últimas anexadas ilegalmente por Putin, o que pode ocorrer dentro do estado de emergência em que o país se encontra desde a invasão. Ainda não foi divulgado o que pesava contra eles.

Mais mudanças são previstas, de acordo com observadores da cena política ucraniana. O expurgo é o primeiro do tipo desde que a guerra começou —antes, houve demissões pontuais de autoridades identificadas com a população russófona da Ucrânia, concentrada no leste do país.

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