Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski reforça proximidade da Ucrânia com UE em discurso no Parlamento Europeu

Viagem a Bruxelas ocorre em meio a giro que passou por Londres e Paris para pedir mais armas

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São Paulo

Depois de passar por Londres e Paris, em uma espécie de giro surpresa pela Europa, Volodimir Zelenski chegou a Bruxelas nesta quinta (9) para participar de uma cúpula com líderes da União Europeia (UE).

A viagem marca a segunda vez que o presidente ucraniano sai de seu país desde o início da guerra, há quase um ano. O objetivo é o mesmo dos últimos meses —pedir mais armas para Kiev. Mas a estratégia diplomática é nova para o líder, que até o final de 2022 se comunicava sobretudo por meio de vídeos.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, discursa no início de cúpula do Parlamento Europeu em Bruxelas - Kenzo Tribouillard/AFP

Zelenski foi recebido por um Parlamento Europeu em polvorosa, com legisladores vestindo peças com o amarelo e o azul da bandeira ucraniana. No discurso, aplaudido de pé, agradeceu o apoio nos esforços contra a Rússia e buscou destacar a proximidade com o resto da Europa, reforçando os pedidos para acelerar o processo de entrada do país no bloco —a candidatura foi apresentada dias após a invasão.

"Europa, estamos nos defendendo da maior força anti-europeia do mundo moderno. Nós, ucranianos, no front de batalha, junto a vocês", afirmou ele. "Uma Ucrânia vitoriosa será parte da União Europeia."

A UE deu sinal verde para a candidatura de Kiev em meados do ano passado, num gesto acima de tudo simbólico em meio à guerra. Mas o caminho da adesão pode levar anos, já que o processo exige reformas profundas no país. Uma delas é a adoção de uma série de medidas anticorrupção, e a Ucrânia amarga o segundo lugar no ranking dos mais corruptos do continente, atrás apenas da Rússia.

O governo de Zelenski vem realizando operações nesse sentido nas últimas semanas, com o afastamento de diversas autoridades, a emissão de mandados de busca e apreensão contra outras e, mais recentemente, a prisão do bilionário Ihor Kolomoiskii, antigo aliado do presidente. A intenção, claro, é acelerar as negociações formais com o bloco, mas também revela dissenso interno em meio à guerra.

Em Paris, onde esteve nesta quarta (8) para jantar com o presidente francês, Emmanuel Macron, e o premiê alemão, Olaf Scholz, Zelenski ouviu do primeiro-ministro que o país que lidera pertence à UE. "Estou levando uma mensagem clara a Bruxelas: o lugar da Ucrânia é na família europeia", afirmou.

Nas visitas, o presidente ucraniano tem destacado a importância do envio de caças para virar a guerra. No Parlamento britânico, onde também esteve nesta quarta, deu ao Reino Unido um capacete cujo dono, segundo ele, é um dos pilotos mais eficientes do país. "Nele está escrito: 'Temos liberdade. Deem a nós asas para protegê-la'", afirmou, antes de entregar o presente ao presidente do Parlamento, Lindsay Hoyle.

Até agora, os países ocidentais não atenderam a esses apelos —a viagem de Zelenski, porém, pode ser um ponto de virada, num processo talvez parecido com o das solicitações de tanques, que evoluíram de negativas para especulações e, por fim, desembocaram no anúncio de doações dos blindados.

Depois da visita de Zelenski a Londres, também nesta quarta, o premiê britânico, Rishi Sunak, pediu ao seu governo para verificar se havia aeronaves disponíveis para enviar a Kiev e disse que nenhuma proposta estava fora de cogitação. O gabinete do primeiro-ministro anunciou, ainda, um programa de capacitação de combatentes ucranianos para pilotar caças avançados da Otan, a aliança militar ocidental.

Autoridades britânicas, no entanto, afirmam que aprender a pilotar esse tipo de aeronave leva anos. O compromisso, assim, sinaliza o estabelecimento de um plano de segurança de longo prazo com a Ucrânia, mas pouco resolve o problema imediato com Moscou. No curto prazo, Sunak afirmou que os tanques britânicos Challenger prometidos a Kiev estarão operacionais no próximo mês.

Em Paris, Zelenski ganhou a Ordem Nacional da Legião de Honra, a maior honraria que um presidente francês pode dar a um chefe de Estado, segundo comunicado do Palácio do Eliseu. Giorgia Meloni, primeira-ministra ultradireitista da Itália, no entanto, desaprovou o encontro na capital francesa. "A nossa força está no senso de comunidade. Há momentos em que agradar a opinião pública interna provoca riscos a uma causa, e esse me parece ser um desses casos", disse ela em Bruxelas.

O ministro das Relações Exteriores da Itália disse na quarta que Meloni se encontraria com Zelenski fora da reunião da cúpula da UE, que termina nesta sexta (10). No poder desde outubro, a líder italiana reiterou a promessa do país de apoiar Kiev e disse que fornecer ajuda é o melhor caminho para a paz.

A Rússia reagiu ao avanço nas negociações por armas. "Isso nada mais é do que um crescente envolvimento do Reino Unido, da Alemanha e da França em um conflito entre a Rússia e a Ucrânia", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, a jornalistas. "A linha entre o envolvimento indireto e direto está gradualmente desaparecendo. Só podemos lamentar e dizer que tais ações provocam a escalada da tensão e o prolongamento do conflito, levando mais e mais dor à Ucrânia."

Com Reuters

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