Democrata expulso por protesto antiarmas recupera cargo na Câmara do Tennessee

Cassação dos mandatos de legisladores negros intensificou debates sobre racismo na política dos EUA

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Nashville | Reuters

Um conselho legislativo de Nashville, nos EUA, decidiu restabelecer nesta segunda-feira (10) o mandato de um dos parlamentares democratas expulsos da Câmara dos Deputados do Tennessee, com maioria republicana, após participar de um protesto em favor de um controle mais rígido do acesso a armas.

Justin Jones teve o mandato cassado no último dia 6 após se juntar a estudantes e professores que entraram no Legislativo local para exigir a aprovação de leis mais duras. O protesto foi uma reação ao ataque a tiros ocorrido numa escola de Nashville que deixou sete mortos.

"Para o povo do Tennessee, estou com vocês", disse Jones em sua primeira declaração no plenário da Câmara após ser reintegrado. "Continuaremos a ser sua voz aqui. E nenhuma expulsão, nenhuma tentativa de nos silenciar nos deterá, apenas fortalecerá o movimento."

O parlamentar Justin Jones abraça colega após ser reintegrado à Câmara local do Tennessee, em Nashville
O parlamentar Justin Jones abraça colega após ser reintegrado à Câmara local do Tennessee, em Nashville - Cheney Orr/Reuters

O caso provocou indignação e levantou debates sobre racismo na política americana. O democrata Justin Pearson, que assim como Jones é um homem negro, também teve o mandato cassado. Já Gloria Johnson, legisladora branca que se juntou ao protesto, foi poupada. Pearson poderá ser readmitido na quarta-feira (12), quando o conselho legislativo de Shelby, também no Tennesse, deverá analisar o caso.

Segundo as resoluções dos republicanos que pediram a expulsão, os três foram acusados de se envolverem em comportamento desordeiro e que "intencionalmente trouxe desonra à Câmara". Republicanos têm a maioria necessária para aprovar as resoluções de expulsão na Casa.

O presidente da Câmara local, o republicano Cameron Sexton, chegou a comparar os três legisladores aos manifestantes que invadiram o Capitólio, sede do Legislativo americano, em 2021. Os deputados alegam que exerciam o direito à liberdade de expressão ao participarem do protesto.

Para Delishia Porterfield, integrante do conselho legislativo que votou para reintegrar Jones, a destituição do parlamentar representou um ataque à democracia. "Com esta votação, enviaremos uma forte mensagem ao governo do nosso estado e a todo o país de que não toleraremos ameaças", disse.

Cerca de 600 manifestantes a favor dos democratas se reuniram perto da sede do conselho para acompanhar a votação. "Bem-vindo de volta!", gritaram após o veredicto. Eles exibiam cartazes com as frases "sem Justin, sem paz", "proteja as crianças, não as armas" e "parem as vendas do [fuzil] AR-15".

Homem negro com terno azul escuro fala em púlpito em frente a microfone
Justin Pearson durante discurso na Câmara - Cheney Orr/Reuters

Aos manifestantes Jones disse que os republicanos cometeram abuso de poder, mas que o ato pode sair pela culatra. "Eles galvanizaram um movimento nacional. O mundo está olhando para o Tennessee."

Projetos que reivindicavam leis mais rígidas para posse de armas foram rejeitados pela Câmara local, que optou por exigir que escolas realizem exercícios anuais e mantenham portas de entrada trancadas.

Apenas dois representantes foram expulsos na Câmara dos Deputados do Tennessee desde a Guerra Civil (1861-1865). Um em 1980, por suborno, e outro, em 2016, acusado de má conduta por várias mulheres.

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