Descrição de chapéu Mercosul América Latina

Candidato paraguaio comparado a Bolsonaro é preso por incitar atos contra resultado das eleições

Extremista ficou em terceiro lugar e alegou fraude no pleito; vice em sua chapa fala em 'perseguição política'

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Buenos Aires

O terceiro colocado nas eleições do Paraguai, Paraguayo Cubas, extremista comparado a Jair Bolsonaro (PL), foi preso preventivamente nesta sexta (5) por incitar atos contra o resultado das eleições de domingo. Ele foi detido em San Lorenzo, a 18 km de Assunção, enquanto fazia uma transmissão ao vivo.

A Polícia Nacional cumpriu um pedido de prisão feito na terça-feira (2) pelo Ministério Público, por "perturbação à paz pública" e por "incitação à prática de atos puníveis", segundo confirmou à Folha a promotora Patricia María Rivarola, coordenadora das eleições pelo órgão.

O extremista Paraguayo Cubas durante evento de campanha em San Lorenzo, no Paraguai
O extremista Paraguayo Cubas durante evento de campanha em San Lorenzo, no Paraguai - Norberto Duarte - 22.abr.23/AFP

O candidato a vice-presidente pela chapa de Cubas, o engenheiro eletricista Stilber Valdés, descreveu a prisão como uma "aberta perseguição política". "É um ato arbitrário e que certamente fará com que a instabilidade social aumente", afirmou ele ao jornal.

O conservador Santiago Peña foi eleito presidente do país com 15 pontos percentuais de diferença para o segundo colocado, o liberal Efraín Alegre, e confirmou a hegemonia do partido Colorado, no poder há quase 70 anos. Foi a vitória mais folgada da sigla em 25 anos.

Alegre havia reconhecido a derrota no dia do pleito, mas depois dos protestos se juntou ao coro dos que pedem uma revisão da votação. Nesta sexta, ele publicou um vídeo pedindo a liberdade de Paraguayo Cubas e "de todos os cidadãos presos por pedir transparência".

Cubas ficou em terceiro lugar, mas surpreendeu ao conseguir uma votação expressiva tanto em sua candidatura à Presidência quanto no Legislativo. Seu partido, Cruzada Nacional, que concorreu pela primeira vez, elegeu 5 dos 45 senadores e 5 dos 80 deputados. A Justiça Eleitoral, a Promotoria e as comissões internacionais que acompanharam a eleição confirmaram o resultado, apesar de diversos relatos de indução de voto que circularam durante o pleito, considerados comuns no país —quando uma pessoa entra na urna com outra para supostamente ajudá-la, mas induz a escolha.

A missão da OEA (Organização dos Estados Americanos) concluiu que "não existe nenhuma razão que ponha em dúvida os resultados apresentados pela autoridade eleitoral", e a União Europeia afirmou que "o processo eleitoral se deu de forma transparente e satisfatória".

Os manifestantes que alegam suposta fraude se baseiam em vídeos e relatos de redes sociais —alguns deles compartilhados pelo próprio Cubas.

Os atos começaram no dia seguinte ao pleito, em frente ao Tribunal Superior de Justiça Eleitoral, na capital paraguaia. Roncos de motor, fogos de artifício e buzinaços ecoaram a alguns metros do prédio oficial, e grupos chegaram a bloquear ao menos 60 ruas e estradas naquela madrugada.

O protesto do centro foi majoritariamente pacífico, mas terminou em briga com a polícia. Também foram registrados diversos episódios de violência e vandalismo em outros locais. Em Caaguazú, por exemplo, a 180 km de Assunção, uma ambulância com um bebê dentro foi interceptada, apedrejada e pichada, porque o grupo achava que ela transportava boletins de votação.

Apesar da semelhança com os protestos no Brasil, como as cores da bandeira do país, as motocicletas e o discurso de fraude, poucos dos paraguaios presentes sabiam quem é Jair Bolsonaro. Alguns só ouviram de nome que ele é ex-presidente, mas não acompanham a política brasileira.

Outra diferença para os protestos golpistas em frente aos quartéis no Brasil é a distância dos policiais. Não havia sinais de envolvimento ou concordância dos agentes, que apenas observavam de longe. No geral, também não havia resistência a profissionais da imprensa, que no Brasil não podiam se identificar ao público por riscos à sua segurança.

Diante dos episódios, na terça (2), a Polícia Nacional atuou para desobstruir as vias e prendeu ao menos 74 pessoas. O Ministério Público formou uma equipe específica para apurar os fatos, e a Justiça Eleitoral, por sua vez, fez uma denúncia coletiva contra os envolvidos por "atos contra o Estado".

O tribunal pede que a Promotoria apure delitos como perturbação da paz, impedimento das eleições e coação dos órgãos constitucionais, alegando que houve obstrução das ruas no entorno do prédio para dificultar a circulação de caminhões que transportavam as máquinas e as atas de votação.

A Corte também convocou uma entrevista coletiva naquela manhã para esclarecer informações falsas que impulsionaram os protestos. "Essa não é uma urna eletrônica, não guarda nenhum voto, não se pode modificar os votos porque não estão guardados ali. É igual buscar um voto numa bolsa vazia", disse o assessor técnico Carlos María Ljubetic.

Um dos principais argumentos dos manifestantes é que o número de votos impressos pelas máquinas de votação divergiu dos resultados informados pela Justiça. O porta-voz, porém, desmentiu essa afirmação e disse que as fotos que circulavam nas redes sociais eram de duas eleições distintas, para presidente e para deputado.

Foi a primeira vez que o país utilizou máquinas nas eleições gerais, em vez do voto manual —elas já haviam sido usadas nas primárias e em eleições municipais. Ao final da votação, o equipamento imprime um boletim de voto, que em seguida é repassado ao tribunal eleitoral.

O presidente eleito, Peña, que anunciou dois membros de sua equipe de transição, afirmou que os atos "não são nenhuma surpresa" e chamou Paraguayo Cubas de anarquista. "Pedimos ao governo atual que dê aos paraguaios a tranquilidade que todos necessitamos", afirmou.

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