Disputa por apoio de 3º colocado na Turquia reforça discurso anti-imigração

Sinan Ogan, contrário à entrada de sírios no país, terminou primeiro turno da eleição com 5% dos votos

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São Paulo

Considerado um outsider na política turca, o nacionalista de ultradireita Sinan Ogan, 55, concorreu à Presidência com discursos xenofóbicos e a defesa de propostas duras contra a imigração. Agora, é cobiçado pelos dois candidatos que disputam o segundo turno do pleito que será definido no dia 28.

Até então desconhecido fora da Turquia, Ogan surpreendeu no domingo (14). Ficou em terceiro lugar, com 5,17% dos votos, acima do projetado nas pesquisas. À frente, o atual presidente, Recep Tayyip Erdogan (49,51%), no poder há 20 anos, e Kemal Kilicdaroglu (44,88%), com duas décadas de carreira política.

O ultranacionalista Sinan Ogan durante entrevista em Ancara, na Turquia
O ultranacionalista Sinan Ogan durante entrevista em Ancara, na Turquia - Yves Herman - 15.mai.23/Reuters

Tão logo o resultado foi divulgado, Ogan reforçou o discurso anti-imigração. "O que quero é a saída dos sírios. Todos os refugiados devem voltar para casa. Vote no candidato que coloque em prática essa política", afirmou ele, esquivando-se da pressão para declarar apoio a um dos lados na disputa.

Afetada pela guerra civil iniciada em 2011 no país vizinho, a Turquia abriga cerca de 3,6 milhões de sírios, 75% dos quais com status de proteção temporária. Devido à crise econômica, com inflação de 85% em 2022, quase todos os partidos turcos endureceram o tom contra os refugiados na campanha. A coalizão formada por nacionalistas, da qual Ogan faz parte, foi a primeira a se posicionar de maneira firme no tema.

Analistas apontam que a conquista de eleitores nacionalistas será decisiva para o resultado do segundo turno. À frente de uma coalizão formada por seis legendas, Kilicdaroglu obteve resultado frustrante no último domingo —sondagens apontavam o opositor à frente de Erdogan. Líderes da campanha avaliam que o político não conseguiu atrair tantos eleitores nacionalistas quanto o esperado em parte devido ao apoio recebido por partidos pró-curdos, que antagonizam com o atual presidente.

O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, tornou-se popular entre os curdos após as tratativas de um acordo para pôr fim à luta por autonomia. Em 2015, no entanto, as negociações fracassaram com a retomada do conflito entre o Estado e militantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo armado rotulado como terrorista por Ancara e países ocidentais.

Ex-acadêmico e especialista em Rússia e na região do Cáucaso, Ogan foi eleito deputado pela primeira vez em 2011 pelo Partido do Movimento Nacionalista, à época já com um forte discurso anti-imigração.

Ele deixou a legenda seis anos depois, em parte devido à proximidade da sigla com o AKP, partido de Erdogan. Em setembro do ano passado, anunciou a candidatura à Presidência se descrevendo como um "candidato independente dos nacionalistas turcos". Assim como o atual presidente, acumula declarações ao longo da carreira que atacam os direitos humanos e a comunidade LGBTQIA+.

Espera-se que Ogan encontre Erdogan e Kilicdaroglu nos próximos dias. Devido aos posicionamentos mais conservadores, o atual mandatário larga na frente por uma possível aliança com o nacionalista.

Ao mesmo tempo, o derrotado sinalizou estar aberto a negociações, desde que "com base em seus princípios". Nesta segunda, à agência Reuters, disse que está disposto a conversar com Kilicdaroglu caso ele se comprometa a não fazer concessões às legendas que atuam em defesa dos curdos.

Se o apoio de Ogan é crucial a Kilicdaroglu, também o é para o atual presidente, que enfrenta seu maior desafio eleitoral em 20 anos. No comando desde 2003, Erdogan tornou-se premiê com a chegada ao poder do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), nacionalista conservador, e, em 2014, foi eleito presidente depois de mudar regras eleitorais e a Constituição. Em 2018, foi reeleito no primeiro turno. Líder carismático, viu enfraquecer sua popularidade recentemente, devido à grave crise econômica que afeta o país e a causas e efeitos do terremoto que matou mais de 50 mil pessoas em fevereiro.

Agora, o mandatário disputa um inédito segundo turno, que ocorre pela primeira vez na história moderna da Turquia, iniciada há um século.

"Aqueles que não se afastam do terrorismo não devem vir até nós", disse Ogan sobre as negociações pelo apoio na reta final do pleito. "Sabíamos desde o início que as eleições iriam para o segundo turno e que os nacionalistas turcos determinariam o resultado."

Com Reuters

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