Militar que matou manifestante do Black Lives Matter é condenado a 25 anos de prisão

Governador republicano intercede pelo sargento em caso que mobilizou conservadores nos EUA

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David Montgomery J. David Goodman
Austin (EUA) | The New York Times

Um juiz no Texas sentenciou o sargento do Exército Daniel S. Perry a 25 anos de prisão pela morte de Garrett Foster, ex-mecânico de aeronaves da Força Aérea, durante uma manifestação do movimento Black Lives Matter —Foster estava armado com um fuzil durante o ato.

O juiz Cliff Brown, do 147º Tribunal Criminal Distrital do condado de Travis, proferiu a sentença na quarta-feira (10), um dia após uma audiência carregada de emoções em que promotores exibiram como evidência comentários racistas publicados online por Perry e o descreveram como "uma arma em ponto de bala".

Daniel Perry durante seu julgamento no Centro de Justiça Criminal Blackwell-Thurman, em Austin, Texas, nos EUA
Daniel Perry durante seu julgamento no Centro de Justiça Criminal Blackwell-Thurman, em Austin, Texas, nos EUA - Jay Janner - 7.abr.23/USA Today Network via Reuters

Os advogados de defesa apresentaram o testemunho de um psiquiatra segundo o qual o sargento tinha autismo e sofria de transtorno de estresse pós-traumático e de soldados negros que serviram com ele no Exército e o descreveram como um colega confiável que nunca havia manifestado tendências racistas.

"Não ligávamos para a cor", afirmou Ronald Wilson, uma das testemunhas do Exército, dizendo que passou bastante tempo com Perry em Fort Hood, no Texas. Wilson disse que ele e o sargento frequentemente jogavam golfe ou iam ao cinema juntos. "Eu o teria seguido até o inferno", disse.

Perry, que foi condenado por homicídio por um júri no mês passado e vestia o uniforme listrado de presidiário durante a sessão, manteve-se impassível quando o juiz proferiu a sentença —as penas possíveis iam de cinco anos de cárcere até prisão perpétua.

Garrett Foster com a noiva, Whitney Mitchell
Garrett Foster, morto em um protesto do Black Lives Matter, com a noiva, Whitney Mitchell - Reprodução/Twitter

O caso de Perry chamou a atenção do país por estar situado na encruzilhada entre os debates sobre o Black Lives Matter e os direitos de portadores de armas de fogo à autodefesa. Conservadores como o ex-apresentador da Fox News Tucker Carlson argumentaram que Perry agiu em legítima defesa ao atirar em Foster em uma manifestação no centro de Austin, no Texas, na noite de 25 de julho de 2020.

No dia seguinte ao anúncio do veredicto, o governador do Texas, o republicano Greg Abbott, agiu de forma incomum ao pedir que o Conselho de Perdões e Liberdades Condicionais do estado investigasse o caso e recomendasse um perdão para Perry para que ele pudesse concedê-lo.

Durante o julgamento, os advogados de Perry argumentaram que ele atirou em defesa própria e que Foster, que portava um fuzil do tipo militar no momento de sua morte, havia erguido a arma contra ele. Mas os promotores disseram que Perry tinha um histórico de demonstrações hostis contra manifestantes online e que ele investiu contra a multidão com seu veículo, desencadeando o confronto fatal.

O anúncio da sentença foi adiado enquanto Brown avaliava se pediria a realização de um novo julgamento devido ao que a defesa chamou de introdução equivocada de informações por ao menos um dos membros do júri. Na semana passada, o juiz decidiu que os atos não invalidam sua decisão.

Os advogados de Perry disseram que vão recorrer do veredicto. Mas é provável que um anúncio de um perdão seja feito antes da apelação. Atendendo ao pedido de Abbott, o Conselho de Perdões já começou a analisar o caso. O promotor público do condado de Travis, José Garza, um democrata, pediu para apresentar evidências ao conselho, e os advogados de Perry se ofereceram para cooperar.

Pela legislação do Texas, o governador não pode conceder um perdão se essa medida não tiver sido recomendada antes pelo conselho. O processo geralmente ocorre muito tempo depois da condenação e do pronunciamento da sentença. Não está claro quando o conselho, composto por sete pessoas indicadas pelo próprio governador, fará sua recomendação.

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