Descrição de chapéu China Governo Biden

Especialistas veem 'janela de oportunidade' para acordo entre EUA, China e Taiwan

Com Xi e Biden num intervalo das pressões, acadêmicos apontam disposição para conversar e buscar acordos

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Taipé

Acadêmicos reunidos no congresso da Wan-Ifra (Associação Mundial de Editores de Notícias, na sigla em inglês), nesta quarta-feira (28), em Taipé, veem no momento político de China, EUA e Taiwan uma possibilidade de firmar, ainda neste ano, um acordo de convivência, apesar das tensões.

"A política interna oferece uma janela de oportunidade agora, porque Xi Jinping conseguiu seu terceiro mandato e Joe Biden atravessou as eleições de meio de mandato. Então os dois lados podem se reunir um com o outro de maneira a dar e receber", disse Wu Yushan, diretor do Instituto de Política Social da tradicional Academia Sínica, criada há quase um século em Nanquim e transferida para Taipé.

O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, e o líder do regime da China, Xi Jinping, em Pequim
O chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, e o líder do regime da China, Xi Jinping, em Pequim - Li Xueren - 19.jun.23/Xinhua

"Eles não precisam se preocupar tanto com as pressões internas", avalia Wu, alertando, porém, para o início do período eleitoral nos EUA e em Taiwan, devido à eleição presidencial em 2024, o que poderia afetar a perspectiva por ora positiva.

Para Xin Cuiling, professora da Universidade Sun Yat-sen, também de Taipé, o pleito taiwanês pode ter efeito contrário e ser "um catalisador para tirar um pouco da tensão, dependendo de como a campanha eleitoral nos próximos meses vai abordar o assunto". Em sua visão, nenhum dos três atores deseja uma guerra, e as relações entre China e Taiwan são hoje moderadas.

Essa perspectiva teve a concordância de Wang Xiangwei, professor da Universidade Batista de Hong Kong e ex-editor-chefe do South China Morning Post, no qual agora é colunista. Para ele, a visita a Pequim de Antony Blinken, secretário de Estado americano, mostrou a vontade de ambos de conversar. "Com esse recente aquecimento nas relações bilaterais, acredito que agora os dois lados querem sentar e falar."

O congresso de jornalismo atraiu também lideranças políticas locais, como a presidente Tsai Ing-wen e seu vice, agora candidato a sucedê-la, Lai Ching-te. Na noite anterior, num jantar privado dos principais executivos de jornalismo reunidos pelo evento, foi a vez do prefeito de Taipé, o oposicionista Chiang Wan-an. E nesta quinta é esperado o prefeito de Nova Taipé, Hou Yu-ih, candidato à Presidência pela oposição.

Ainda nesta quarta, Lai fez uma intervenção de caráter eleitoral, curta e genérica, enquanto Tsai procurou se estender, denunciando, sem citar nomes, pessoas que estariam "promovendo agressivamente a narrativa de que a democracia é ineficiente". Segundo ela, "essa campanha de desinformação se tornou um dos desafios mais difíceis para as democracias", que não podem reagir apelando à repressão.

Tsai procurou sublinhar o papel da democracia liberal taiwanesa. "Nos últimos anos, Taiwan se tornou lar para muitos profissionais estrangeiros", afirmou à plateia formada, em grande parte, por correspondentes de veículos jornalísticos internacionais.

A cerimônia de abertura do congresso contou ainda com um breve discurso de Duncan Wang, presidente do Lianhe Bao (United Daily News), jornal do maior grupo privado de mídia em Taiwan e considerado mais próximo do principal partido da oposição, o KMT.

Wang afirmou "deplorar as ameaças à liberdade de imprensa em regimes autoritários mergulhados em conflitos".

Por outro lado, segundo ele, "a liberdade de imprensa também está vulnerável até mesmo em democracias pacíficas", e outros desafios vêm se acumulando em relação ao jornalismo, em termos de tecnologia e sustentabilidade.

Taiwan é uma das personagens-chave da tensão entre EUA e China. A ilha que na prática é independente mas é considerada uma província rebelde por Pequim recebe apoio militar de Washington por meio da venda de armas. E o governo de Biden já prometeu defender a ilha no caso de uma invasão chinesa.

Em agosto passado, a tensão escalou quando a então presidente da Câmara dos EUA, a democrata Nancy Pelosi, fez uma visita a Taiwan —a primeira visita oficial do tipo em 25 anos. O episódio foi criticado pelo regime de Xi, que também organizou uma série de consecutivos exercícios militares ao redor da ilha hoje liderada por Tsai.

O ministro da Defesa taiwanês, Chiu Kuo-cheng, também já chegou a afirmar que a China teria capacidade para promover uma invasão à ilha em 2025. E a visão é compartilhada pelo general Mike Minihan, chefe do Comando de Mobilidade Aérea dos EUA.

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