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Arábia Saudita enfrenta resistência do Japão para integrar projeto de caças

Pedido cria tensão entre parceiros em iniciativa que promete revolucionar aeronaves de combate

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Londres, Tóquio e Roma | Financial Times

A Arábia Saudita pressiona Reino Unido, Japão e Itália para que os países permitam sua participação em uma iniciativa assinada pelos três em dezembro que promete revolucionar a tecnologia de caças militares.

O pedido, confirmado por cinco autoridades das três nações originalmente responsáveis pelo projeto, já criou tensões. Enquanto britânicos e italianos estão abertos à adesão saudita, Tóquio se opõe a ela.

Caça Eurofighter Typhoon na pista de uma base aérea no leste do Qatar
Caça Eurofighter Typhoon na pista de uma base aérea no leste do Qatar - 10.out.22/Qatar News Agency/AFP

O Global Combat Air Program (GCAP), que visa a entregar uma aeronave de combate altamente avançada e exportável até 2035, representou um avanço significativo para os três signatários —em especial para o Japão, que adotou uma política pacifista após a derrota na Segunda Guerra e, por isso, restringia suas exportações de equipamentos militares e nunca chegou a colaborar num programa dessa escala.

As tentativas sauditas de entrar no GCAP se intensificaram nas últimas semanas, segundo autoridades de Londres e Tóquio. Esses esforços incluíram um pedido direto ao governo japonês em julho, quando o primeiro-ministro Fumio Kishida se encontrou com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman em Jidá.

A participação envolveria uma contribuição financeira potencialmente importante para um projeto cujos custos são estimados em dezenas de bilhões de dólares, dizem pessoas informadas sobre o assunto. Elas afirmam ainda que, embora as negociações ainda estejam num estágio inicial, a proposta saudita também poderá incluir a oferta de contribuir com expertise em engenharia em diferentes etapas do projeto.

Uma fonte sênior da Defesa britânica disse que Riad é uma parceira importante no programa e que o governo estava trabalhando para garantir o avanço da inclusão na aliança o mais rapidamente possível.

O Japão revogou em 2014 sua proibição de exportar armas, vigente havia décadas, e está discutindo o relaxamento das restrições para permitir que, com o GCAP, elas possam ser vendidas para mais mercados estrangeiros. Mas as autoridades do país asiático disseram que adicionar a Arábia Saudita à mistura complicaria ainda mais as discussões sobre os países para os quais Tóquio poderia vender armas.

Um quarto membro também complicaria as negociações de um projeto que já enfrenta um prazo apertado. Uma fonte com conhecimento sobre as negociações disse que o Japão está focado em entregar uma aeronave até 2035 e teme que o envolvimento saudita crie atrasos. Apesar do apoio de Itália e Reino Unido, pessoas que acompanham as negociações disseram que ainda há ressalvas substanciais, incluindo dúvidas sobre se o novo parceiro teria de fato algo importante para oferecer no lado tecnológico.

Há preocupação ainda maior com segurança, que já é uma fonte de tensão na grupo devido à exigência de compartilhar tecnologia e dados confidenciais. Antes do GCAP, Londres pressionou Tóquio a melhorar sua segurança cibernética e a adotar estrutura mais rigorosa para verificação de segurança dos envolvidos.

O interesse da Arábia Saudita no GCAP sucede atrasos na obtenção de uma segunda leva de aeronaves Eurofighter Typhoon do Reino Unido. O reino rico em petróleo é um dos que mais gasta em armamentos, principalmente vindos dos EUA. Mas Riad também está investindo bilhões de dólares para desenvolver uma indústria de armas própria e busca parcerias com fabricantes para se tornar um produtor.

A Alemanha, um dos quatro parceiros no consórcio Eurofighter, impôs um embargo de armas ao reino em 2018, após o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi por agentes sauditas e o envolvimento do país na guerra do Iêmen. Em julho, Berlim disse que não apoiaria a entrega da aeronave Typhoon tão cedo.

A posição da Alemanha ameaça impedir um pedido subsequente de mais Typhoons prometido em um memorando de intenções firmado entre o Reino Unido e a Arábia Saudita em 2018. Uma grande parte dos componentes do Eurofighter é fabricada em território britânico, mas alguns vêm dos outros parceiros –Alemanha, claro, Itália e Espanha–, e estes podem vetar a exportação do caça para outros países.

O Reino Unido, que tem laços históricos com a Arábia Saudita, lançou um estudo de viabilidade com Riad no início deste ano para explorar a colaboração futura em capacidades aéreas de combate. Na época, porém, Londres disse que o acordo era diferente do GCAP. Os ministérios da Defesa do Japão e da Itália não responderam imediatamente a pedidos de comentários.

Leo Lewis , Kana Inagaki , Sylvia Pfeifer , Andrew England e Giuliana Ricozzi

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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