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Guerra da Ucrânia Rússia

Zelenski recorre a risco de Terceira Guerra para sensibilizar líderes mundiais

Presidente ucraniano neste ano, porém, é muito diferente do que arrebatou a Assembleia-Geral da ONU em 2022

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São Paulo

Diante de uma contraofensiva morna, do medo de europeus e americanos esmorecerem e da resistência do Sul Global a isolar a Rússia, o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, recorreu ao perigo de uma Terceira Guerra Mundial para tentar sensibilizar líderes mundiais. E advertiu que o perigo não é "apenas" nuclear —a Rússia estaria transformando alimentos e energia em armas.

"As armas nucleares não são a coisa mais assustadora agora. A destruição em massa está ganhando impulso", disse Zelenski. "O agressor está transformando muitas outras coisas em armas, que estão sendo usadas não apenas contra nosso país, mas também contra o de vocês", continuou, acrescentando que há muitas convenções contra armas nucleares, mas nenhuma contra transformar em armas os suprimentos globais de alimentos e energia.

Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York
Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, na Assembleia-Geral da ONU, em Nova York - Timotyh A. Clary/AFP

"[A Rússia] Não apenas está disseminando sua tecnologia de construção de usinas nucleares instáveis, mas também está convertendo as usinas de energia de outros países em verdadeiras bombas sujas."

O Zelenski que encarou a Assembleia-Geral da ONU deste ano é bem diferente daquele que arrebatou o público de líderes na edição do ano passado.

Em 2022, a Ucrânia estava mergulhando em uma bem-sucedida contraofensiva que conseguiu expulsar a Rússia de vários territórios que havia ocupado. Para os americanos e europeus que estão armando a Ucrânia, havia perspectiva de um final para a guerra.

Agora, Zelenski não está colhendo os resultados esperados em sua contraofensiva. O ministro da Defesa e várias autoridades foram demitidos. Não se vê uma solução militar a curto prazo, e o mundo começa a se cansar da guerra.

Os países emergentes já demonstraram que não pretendem ceder à pressão do próprio Zelenski e do G7 e não vão impor sanções contra a Rússia nem enviar armas para ucranianos.

A vitória dos emergentes na cúpula do G20 ao forçarem os países do G7 a eliminar menção à agressão da Rússia contra Ucrânia do comunicado final prova que as nações em desenvolvimento se ressentem da imposição da guerra como tema na agenda global.

Em seu discurso na ONU, o presidente Joe Biden reiterou apoio incondicional à Ucrânia. "A Rússia acredita que o mundo vai se cansar e permitir que ela ataque a Ucrânia sem consequências. Mas eu pergunto a vocês: se abandonarmos os princípios fundamentais da Carta da ONU para apaziguar um agressor, algum Estado-membro pode se sentir confiante de que está protegido? Se permitirmos que a Ucrânia seja dividida, a independência de alguma nação está segura?"

O mesmo Biden respondeu. "A resposta é não. Devemos nos opor a essa agressão descarada hoje para dissuadir outros potenciais agressores amanhã. É por isso que os Estados Unidos, juntamente com nossos aliados e parceiros ao redor do mundo, continuarão a apoiar o povo da Ucrânia enquanto eles defendem sua soberania e integridade territorial —e sua liberdade."

Internamente, porém, os republicanos aumentaram sua oposição aos crescentes gastos do governo com a Guerra da Ucrânia. A pressão está crescendo, assim como nos países europeus, para um início de negociações entre Rússia e Ucrânia.

Para Zelenski, no entanto, começar a negociar sem precondições equivale a abrir mão de cerca de 25% do território ucraniano, ocupado pela Rússia.

E o ucraniano bate na tecla do plano de paz elaborado por Kiev, que ele discutirá em mais detalhes em reunião do Conselho de Segurança da ONU na quarta-feira (20). Ele também prepara uma Cúpula Global da Paz para tentar emplacar seu plano com um número maior de países.

"A fórmula de paz assegura que a agressão contra seu país não vai cessar porque a nação será dividida, e que a soberania de seu território será restaurada".

O Brasil e outros emergentes interpretam a fórmula de paz de Zelenski como equivalente a uma rendição incondicional da Rússia. Segundo integrantes do governo brasileiro, é "inviável".

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