Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Chefe de gabinete da Otan sugere que Ucrânia ceda terra à Rússia

Kiev chama de inaceitável fala que admite trocar entrada na aliança por concessão a Putin

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Em mais uma manifestação pública de desconfiança acerca dos rumos da contraofensiva ucraniana contra a invasão russa, o chefe de gabinete do secretário-geral da Otan afirmou nesta terça (15) que a entrada de Kiev na aliança militar ocidental pode ocorrer se houver concessões territoriais a Moscou.

"Uma solução poderia ser a Ucrânia desistir de território e obter a adesão à Otan em troca", afirmou Stian Jenssen, que trabalha para o chefe da aliança, o também norueguês Jens Stoltenberg, desde 2017. A fala foi feita a jornalistas em debate em Arendal, em seu país natal, e noticiada por órgãos como o site VG.

Tanque e blindados americanos a serviço da Otan desfilam no dia das Forças Armadas da Polônia, em Varsóvia
Tanque e blindados americanos a serviço da Otan desfilam no dia das Forças Armadas da Polônia, em Varsóvia - Wojtek Radwanski/AFP

Jenssen ainda ponderou, dizendo que a posição do chefe é a que vale: cabe à Ucrânia decidir o momento e os termos em que aceitará negociar com Vladimir Putin. O presidente Volodimir Zelenski insiste que isso só ocorrerá com a desocupação total dos russos, incluindo na conta a Crimeia anexada sem luta em 2014.

O Kremlin dá de ombros quanto a isso, como a renovada campanha de ataques aéreos e a sua própria ofensiva no nordeste ucraniano provam. As dificuldades de Kiev na contraofensiva iniciada com apoio material e treinamento da Otan em junho apenas adensam o clima para Zelenski.

O chefe de gabinete não tem poder executivo, mas é o mais próximo colaborador de Stoltenberg. Assim, sua fala foi pessimamente recebida pelos ucranianos como uma ofensa "absolutamente inaceitável", nas palavras do porta-voz da chancelaria local, Oleg Nikolenko. "Sempre se assumiu que a aliança, assim como a Ucrânia, não comercializa territórios. A participação consciente ou inconsciente de autoridades da Otan na formação dessa narrativa joga pelas mãos da Rússia", afirmou ele na plataforma X, o ex-Twitter.

Jenssen não falava sobre condições para o fim da guerra especificamente, mas sobre termos de adesão da Ucrânia à Otan, um dos motivos alegados por Putin para a invasão —os russos não querem a presença militar adversária na sua maior fronteira ocidental, embora já tenham conseguido dobrar a área de contato com a entrada da Finlândia no clube liderado pelos EUA devido justamente à guerra.

"Não estou dizendo que tem que ser assim, mas que pode ser uma solução possível", afirmou. "É importante que discutamos nosso caminho para isso. É do interesse de todos que a guerra não se repita. A Rússia está lutando enormemente do ponto de vista militar, e parece irreal que eles possam tomar novos territórios. Agora é mais uma questão de saber o que a Ucrânia consegue recuperar."

Ele se referia à contraofensiva. Hoje, o Kremlin ocupa cerca de 20% da Ucrânia e estabeleceu o que os nacionalistas russos chamam de Nova Rússia, a área que liga o país ao Donbass, no leste, já parcialmente em mãos de Moscou desde 2014, à Crimeia, passando pelas regiões de Zaporíjia e Kherson, no sul.

O tom de Jenssen eleva o nível de questionamentos sobre a fé ocidental no sucesso de Kiev. Pelos relatos disponíveis, houve venda de otimismo excessiva por parte de Zelenski e boa vontade idem na Otan.

A questão da adesão à aliança, hoje com 31 membros e a Suécia na fila de espera por cortesia da Turquia, é sensível. Na cúpula do clube em Vilnius, na Lituânia, em julho, Zelenski queixou-se publicamente de não haver sinais claros sobre como o processo ocorreria.

A resposta foi: vai depender das condições que você cumprir, e só após a guerra, dado que é impossível do ponto de vista estatutário a Otan aceitar um membro em conflito sem entrar em combate contra o rival. A palavra final foi dos EUA, sócio sênior do clube, com apoio de países de peso como Alemanha e França.

Reino Unido e membros do Leste Europeu se mostraram mais abertos a apresentar um cronograma para a entrada, mas isso ficou restrito à derrubada de algumas etapas burocráticas se e quando a guerra acabar. Zelenski saiu frustrado, e as recriminações dele e de seus aliados vêm sendo contestadas no Ocidente, que o apoia mas sugere em declarações de autoridades que o ucraniano é ingrato.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.