Descrição de chapéu América Latina

Exército da Colômbia pede perdão por assassinatos de civis em casos dos 'falsos positivos'

Depois de mortas, vítimas eram vestidas como guerrilheiros para serem contabilizadas como baixas inimigas

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Bogotá | AFP

O Exército da Colômbia pediu perdão, nesta terça-feira (3), aos familiares de civis assassinados por soldados e que, depois de mortos, foram vestidos de guerrilheiros para serem contabilizados como baixas inimigas em cenários montados para simular combates armados.

"Reconhecemos que ocorreram eventos dolorosos cometidos por membros do Exército Nacional e que nunca deveriam ter acontecido", disse o comandante da força, o general Luis Ospina, em Bogotá.

O general Luis Ospina pede perdão a familiares de vítimas durante evento em Bogotá
O general Luis Ospina pede perdão a familiares de vítimas durante evento em Bogotá - Juan Pablo Pino -3.out.23/AFP

Diante de familiares das vítimas, o militar disse que os assassinos e seus cúmplices "mancharam a legitimidade" do Exército. "E oferecemos nossas sentidas e sinceras desculpas", acrescentou ele.

Conhecidos como "falsos positivos", os assassinatos de civis são considerados os maiores escândalos envolvendo militares em mais de meio século de conflito armado na Colômbia. Os crimes, na década de 2000, foram estimulados por metas estabelecidas pelo governo no combate aos guerrilheiros.

Respondendo a uma campanha linha-dura na segurança, parte da política do então presidente Álvaro Uribe (2002-2010), as Forças Armadas distribuíram premiações em dinheiro, promoções e outros benefícios para os oficiais que apresentassem grande eficácia na eliminação de combatentes.

Para receber esses prêmios, militares armavam arapucas no interior do país. Mas, em vez de guerrilheiros, civis foram mortos e vestidos de combatentes. Em 2008, uma operação do tipo, em Soacha, perto de Bogotá, foi desmascarada. Familiares de 19 jovens assassinados denunciaram os militares responsáveis pelas mortes e apresentaram evidências de que as vítimas não faziam parte de organizações armadas. A partir de então, centenas de denúncias similares passaram a surgir.

Ao comentar a declaração do general Ospina, o presidente Gustavo Petro descreveu a prática como "genocídio". "Que as armas nunca se voltem contra o povo novamente", afirmou ele, crítico de antigos chefes militares. Em julho, o ministro da Defesa, Iván Velásquez, já havia pedido desculpas pelos crimes.

Familiares das vítimas exigiram saber quem deu a ordem para assassinar os civis e inflar os números de baixas em troca de benefícios. Desde que grupos que atuam com direitos humanos passaram a cobrar investigação, comandantes do Exército negam que a ação foi sistemática. Militares chegaram a dizer que os relatos eram invenções de organizações da esquerda para deslegitimar as forças de segurança.

Mas a JEP (Justiça Especial para a Paz), um tribunal criado a partir do acordo entre o Estado colombiano e a ex-guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), apontou em 2021 que pelo menos 6.402 pessoas foram assassinadas como parte da estratégia de militares que buscavam apresentar resultados na luta contra as guerrilhas.

Em confissões à JEP, vários militares aposentados contaram como convenciam jovens com ofertas de trabalho para depois matá-los a centenas de quilômetros de suas casas. A maioria das vítimas de Bogotá e Soacha foi levada para Norte de Santander, um departamento na fronteira com a Venezuela.

Alguns relatam terem sido pressionados por seus superiores e acusaram o general Mario Montoya, chefe do Exército de 2006 a 2008 e próximo do ex-presidente Uribe, de estimular os crimes. Ao fornecer detalhes sobre o episódio, os soldados podem receber penas alternativas à prisão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.