Descrição de chapéu Rússia

Explosão de granada derrubou avião de mercenário, diz Putin

Presidente afirma que teve culpa por não dar apoio aos soldados do Grupo Wagner antes do motim

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São Paulo

A explosão de uma granada de mão causou a queda do avião que transportava o líder mercenário russo Ievguêni Prigojin e mais nove pessoas, ocorrida perto de Moscou em 23 de agosto, anunciou Vladimir Putin nesta quinta-feira (5). "O comitê de investigação encontrou fragmentos de granada nos corpos de ocupantes. Não houve um impacto externo", acrescentou o presidente russo.

A revelação da versão, que corrobora a opinião do Pentágono de que não houve emprego de um míssil antiaéreo no episódio, surpreendeu a plateia da reunião anual do Clube Valdai, um grupo de discussão de política internacional bancado pelo Kremlin, em Sochi (sul russo), já no final das três horas e 40 min de participação de Putin no evento.

Destroços do jato Legacy 600 do líder mercenário Ievguêni Prigojin, em Kujenkino, perto de Moscou
Destroços do jato Legacy 600 do líder mercenário Ievguêni Prigojin, em Kujenkino, perto de Moscou - @grey_zone no Telegram - 23.ago.2023/AFP

O presidente respondia a uma questão acerca de companhias militares privadas em sessão de perguntas após seu discurso quando falou, espontaneamente, do caso de Prigojin —que fora seu aliado próximo e ganhou o apelido de "chef de Putin" pelos negócios no ramo de alimentação sob o seu comando, que evoluíram para a construção de um exército privado atuante em cerca de dez países.

Em 23 de junho, contudo, as desavenças entre Prigojin e o comando das Forças Armadas, que queriam tomar o controle do seu Grupo Wagner, resultaram em um motim inédito nos 24 anos de poder de Putin. Um comando militar russo foi ocupado e uma coluna armada rumou em direção a Moscou, só parando no dia seguinte, após acordo mediado por Belarus.

Chamado de traidor por Putin, Prigojin foi poupado. Aos poucos, contudo, o Kremlin fez movimentos para absorver as operações externas do Wagner, principalmente na África. Em agosto, o líder morreu e vários dedos acusadores se voltaram contra Putin, algo que o Kremlin chama de difamação.

O presidente não deu detalhes, contudo, acerca da explosão —a queda matou dez pessoas ao todo. "São investigações complexas", afirmou. Ele só disse, em tom algo jocoso, que não foram feitos exames que ele consideraria necessários, como o de consumo álcool ou drogas pelos ocupantes do avião, um jato Embraer Legacy 600.

A sugestão insinuada pelo presidente é de que o grupo no avião poderia estar intoxicado e talvez provocado a explosão de uma granada, mas não há nenhuma evidência apresentada sobre isso. Putin lembrou que 5 kg de cocaína haviam sido encontrados nos escritórios de Prigojin depois do motim.

A apuração é tão opaca quanto o incidente, não envolvendo uma ação da agência aeronáutica civil russa, e sim autoridades policiais. A fabricante brasileira do jato nem foi chamada para colaborar, como é praxe internacionalmente.

Ao comentar a questão do grupo mercenário —que aparentemente será empregado novamente na Guerra da Ucrânia sob o comando de Andrei Trichev, integrante da cúpula do Wagner que sobreviveu—, Putin fez uma espécie de mea-culpa.

"Os soldados eram pagos em dinheiro, não tinham proteção social. Isso foi responsabilidade minha também", afirmou. Ele disse que "nem sempre" os mercenários concordavam com os militares regulares acerca de suas missões, algo que estava na raiz da disputa entre Prigojin e o grupo do ministro da Defesa, Serguei Choigu.

A tentativa do ministro de obrigar os mercenários a assinar contratos se submetendo à pasta foi a gota d'água da crise, levando ao motim. Após os eventos, Putin assinou uma lei obrigando o cumprimento dessa hierarquia.

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