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Milei e Massa se chocam por relações com Brasil em último debate na Argentina

Peronista impôs agenda na primeira metade do programa, e ultraliberal citou publicitários ligados a Lula

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Buenos Aires

No último debate antes das eleições presidenciais na Argentina, marcadas para o próximo domingo (19), o ultraliberal Javier Milei e o peronista Sergio Massa tiveram um de seus enfrentamentos mais fortes pelas relações com o Brasil e a China. A discussão foi motivada por uma fala do atual ministro da Economia, que acusou o extremista de querer romper o diálogo com os dois países.

Massa argumentou que a medida terminaria com menos empregos para os argentinos e que "a política externa não pode ser regida por caprichos ou ideologias". "A ruptura com o Mercosul, a ruptura das relações com o Brasil, a ruptura das relações com a China representam 2 milhões de empregos a menos", disse ele.

Os candidatos à Presidência argentina Javier Milei e Sergio Massa participam de último debate antes das eleições - Luis Robayo/Pool/AFP

O direitista rebateu que a ideia de que romperá com os dois países é falsa e que as relações comerciais continuarão existindo. "[O que eu digo é que] é uma questão do mercado privado e o Estado não tem que se meter, porque cada vez que se mete gera corrupção", falou, pedindo que o adversário "deixasse de assustar as pessoas com a perda de empregos".

Pouco depois, os dois elevaram o tom, e o apresentador teve que interferir no debate para pedir que eles não se interrompessem. Desta vez, o evento ocorrido na Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires (UBA) teve um formato mais solto, que se assemelha àquele vivido por Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL) em 2022, com a possibilidade de os candidatos intervirem nas falas um do outro.

"Você faz parte de um governo onde [o presidente] Alberto Fernández também não falava com Bolsonaro. Então qual é o problema se eu falo ou deixo de falar com o Lula?", atacou Milei. Mais cedo, ele afirmou que o Mercosul é "o melhor exemplo do estorvo que o Estado causa" e reforçou seu alinhamento com os Estados Unidos, Israel e "o mundo livre".

Na última semana, o libertário declarou durante uma entrevista a um jornalista peruano que, se for eleito, não se reunirá com Lula porque ele é corrupto e comunista, o que foi ignorado e tratado como bravata pelo governo petista.

O Brasil apareceu mais duas vezes no debate, quando Milei citou os publicitários ligados ao PT que reforçaram a equipe de campanha de Massa depois das eleições primárias de agosto. O grupo, que trabalhou nas campanhas presidenciais de Fernando Haddad e Lula contra Bolsonaro, pode ter ajudado o peronista a reverter, no primeiro turno, o favoritismo do ultraliberal.

Uma dessas menções ocorreu quando o ministro da Economia pediu aos espectadores que "procurassem no Google" o que seu adversário já havia afirmado sobre corte de subsídios, tema no qual insistiu. "Eu convido os espectadores a ver os vídeos inteiros, não os que os brasileiros editam para Massa para fazer campanha negativa", respondeu o libertário.

A avaliação geral na imprensa argentina foi de que Massa conseguiu impor sua agenda e obrigar o rival a dar explicações, pelo menos na primeira metade do programa. Ele também martelou na ideia de "um grande acordo nacional" e novamente tentou se desvincular do kirchnerismo: "Isso não se trata de [Mauricio] Macri ou Cristina [Kirchner], se trata de eu e você", disse, em referência aos ex-presidentes.

O debate televisivo, apesar de não ter sido considerado um fator definidor no primeiro turno, agora pode ter mais peso num contexto de disputa acirrada em segundo turno. Seus efeitos, porém, não poderão ser captados pelas pesquisas, já que a publicação delas é vedada na última semana eleitoral.

As sondagens da última semana dão vantagem ora para o peronista, ora para o ultraliberal, mas Milei aparece à frente na maioria delas com leve diferença. Principalmente porque ele atrai a maior parte dos votos de Patricia Bullrich, macrista que representa a direita tradicional e apoiou o ex-adversário após perder no primeiro turno com 23,8% dos votos.

O segundo e último levantamento de segundo turno da AtlasIntel, divulgado nesta sexta (10), por exemplo, mostra um cenário de estabilidade em relação à semana passada, com 52,1% das intenções de voto para Milei e 47,9% para Massa, com margem de erro de um ponto percentual. A empresa foi uma das únicas que captaram a ascensão do ministro desde setembro.

Diante da conjuntura, o peronista vem intensificando os mea-culpa e as tentativas de se afastar de Alberto Fernández e de Cristina, que acumulam alta rejeição e estão sumidos da campanha há meses. O antigovernismo é o elo que une Milei e Bullrich e um dos principais pontos explorados pelo ultraliberal, mas neste domingo ele parece ter perdido a oportunidade de usar a inflação de quase 140% contra o rival.

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