Descrição de chapéu guerra israel-hamas

Ala política do Hamas não sabia de plano para atacar Israel, diz jornal

Francês Le Figaro ouviu autoridades e pessoas próximas do grupo terrorista no Líbano, na Jordânia e no Qatar

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Campinas

Os comandantes militares do Hamas, Yahya Sinwar e Mohammed Deif, esconderam da ala política do grupo terrorista os planos para o ataque a Israel no dia 7 de outubro que desencadeou a invasão atual na Faixa de Gaza, afirmou o jornal francês Le Figaro neste sábado (30).

A publicação entrevistou líderes do grupo baseados no Qatar e no Líbano e duas pessoas próximas, mas não integrantes, da facção na Jordânia e em território libanês para identificar como foram feitos os preparativos para a incursão terrestre em solo israelense e as medidas tomadas pelos comandantes.

De acordo com o jornal, é certo que apenas três ou quatro pessoas sabiam a hora e o dia em que a invasão ocorreria.

Palestino carrega corpo de criança retirado de destroços em Zawayda, na área central da Faixa de Gaza
Palestino carrega corpo de criança retirado de destroços em Zawayda, na área central da Faixa de Gaza - 30.dez.2023/AFP

Osama Hamdan, por exemplo, autoridade do Hamas baseada em Beirute, afirma ao Figaro que soube do ataque "ouvindo as notícias". O único alertado na capital libanesa teria sido seu superior, Saleh al-Arouri, vice-líder do grupo, meia hora antes da incursão em solo israelense. O objetivo da comunicação teria sido avisar Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, sobre a operação, disse ao jornal uma pessoa próxima da milícia xiita libanesa.

Os dois indivíduos com acesso aos bastidores das discussões do Hamas no Líbano e na Jordânia entrevistados afirmam ter tido conhecimento sobre uma possível invasão a Israel desde 2021; o libanês conta ter ouvido a ideia do próprio Sinwar.

Sinwar e Deif teriam tomado medidas à revelia da ala política do grupo nos meses anteriores à invasão, que pegou Israel de surpresa e deixou cerca de 1.200 mortos segundo as estimativas de Tel Aviv, a maioria deles civis.

Os comandantes teriam trocado extraoficialmente os líderes da maioria das Brigadas al-Qassam, de cujos chefes Israel coletava informações há tempos, o que teria tornado difícil para Tel Aviv saber quem estava de fato no comando de cada grupo. A dissimulação teria alcançado o alto escalão da ala militar.

"Mohammed Deif, que Israel quis matar durante 25 anos, é um ícone", diz uma das pessoas próximas do Hamas ao Figaro. "O verdadeiro líder das brigadas al-Qassam não é ele e nem Marwan Issa, oficialmente seu vice, mas o irmão de Yahya Sinwar, Mohammed Sinwar", afirma.

Cerca de um mês e meio antes da operação, a facção teria ainda imposto um sigilo de comunicação aos seus principais líderes militares, ordenando que eles limitassem os contatos entre si.

Durante esse período Sinwar teria se isolado da ala política e mal teria atendido ligações dos integrantes do grupo fora de Gaza; Moussa Abou Marzouk, um dos líderes políticos baseado no Qatar, teve que esperar dias antes de vê-lo na faixa, e o encontro entre os dois foi "tempestuoso", segundo um integrante do Hamas disse ao jornal francês.

Israel amplia operações no sul de Gaza e mata 100, segundo o Hamas

Tanques israelenses expandiram suas ações em distritos no centro e no sul da Faixa de Gaza durante a noite de sexta-feira (29) e madrugada de sábado (30), fazendo uso de ataques aéreos e de artilharia, segundo moradores.

Os combates se concentraram em Bureij, Nuseirat, Maghazi e Khan Yunis. O bombardeio matou cem palestinos e feriu 150 na região central do território nas últimas 24 horas, segundo disse um alto funcionário de saúde na Faixa de Gaza à agência de notícias Reuters.

No hospital Nasser, em Khan Younis —a maior e mais importante instalação médica no sul do território palestino—, imagens postadas nas redes sociais pelo Crescente Vermelho, equivalente islâmico da Cruz Vermelha, mostraram ambulâncias operando em ruas destruídas e transportando crianças feridas.

Quase todos os 2,3 milhões de habitantes de Gaza foram obrigados a deixar suas casas devido ao ataque de Israel, que completa três meses no início de janeiro e foi lançado após uma incursão surpresa do Hamas ao sul do território israelense de 7 de outubro.

A ofensiva de Tel Aviv matou ao menos 21.500 palestinos, de acordo com as autoridades de saúde em Gaza, controladas pelo Hamas. Há ainda a ameaça constante de que o conflito se espalhe pela região e envolva grupos aliados do Irã no Líbano, Iêmen, Síria e Iraque.

O bombardeio desta sexta destruiu casas, prédios residenciais e comerciais, e suspendeu as atividades dos hospitais. No sábado, o Ministério da Cultura do território havia dito que os ataques israelenses atingiram uma antiga casa de banho medieval.

O Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou nesta sexta que as tropas estavam alcançando os centros de comando e depósitos de armas do Hamas. O Exército do Estado judeu diz ainda ter destruído um complexo de túneis no porão de uma das casas de Yahya Sinwar, na Cidade de Gaza.

Tel Aviv afirmou na sexta-feira que facilitou a entrada de vacinas em Gaza em coordenação com a Unicef, a agência das Nações Unidas para as crianças, para ajudar a prevenir a propagação de doenças.

A pouca ajuda que entra no território desde o início da guerra, quando Israel impôs um bloqueio total a alimentos, medicamentos e combustível, tem chegado pela fronteira com o Egito, ao sul.

Um porta-voz do governo israelense disse na sexta-feira que não limita a ajuda humanitária e que o problema está na distribuição dentro de Gaza.

No mesmo dia, a África do Sul pediu à Corte Internacional de Justiça (CIJ) uma medida urgente que declare que Israel está violando a Convenção de Genocídio de 1948 na guerra atual.

Também conhecida como Corte de Haia, a CIJ é o órgão da ONU responsável por resolver disputas entre países. A petição sul-africana alega que Israel está violando as obrigações do tratado, elaborado após o Holocausto, que torna crime a tentativa de destruir um povo total ou parcialmente.

O país africano pediu que a corte emita medidas provisórias ou de curto prazo que interrompam a ação de Israel em Gaza. Não há datas para audiência, e Israel diz que a acusação não tem base.

Com Reuters

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