Falta autoconfiança à China, diz chefe do escritório de Taiwan no Brasil

Para Benito Liao, Pequim 'não quer encarar realidade' de que a ilha que vê como província rebelde é um país soberano

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Brasília

Menos de uma semana depois de Taiwan eleger um presidente ainda mais anti-China, o chanceler de Pequim, Wang Yi, viajou ao Brasil. Após encontros com seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, e com o presidente Lula, o chefe da diplomacia chinesa foi embora com a reiterada posição brasileira de reconhecimento da existência de "uma só China" —a política que defende que Taipé é parte inalienável do território chinês.

Para Benito Liao, representante do escritório de Taiwan no Brasil, a pressão de Pequim sobre outros países para reafirmar o princípio de "uma só China" denota uma insegurança do regime comunista.

"Falta autoconfiança à China continental. Por isso, uma e outra vez pedem ao governo brasileiro que confirme que só existe uma China, que Taiwan é parte da China. Mas isso não é verdade, porque existe a China e existe Taiwan", diz Liao à Folha.

Benito Liao, representante do Escritório Econômico e Cultural de Taiwan no Brasil
Benito Liao, representante do Escritório Econômico e Cultural de Taiwan no Brasil - Gabriela Biló /Folhapress

"Não se pode negar a nossa existência. Taiwan é um país soberano. Se você vai viajar a Taiwan, precisa solicitar um visto para Taiwan. Não há vistos para Taiwan nos consulados da China continental. Somos separados. Dois governos, duas soberanias."

Para o representante taiwanês, o regime administrado por Xi Jinping "não quer ver e encarar essa realidade".

O Brasil não reconhece Taiwan e endossa a posição de Pequim de considerar a região uma província rebelde. Apesar disso, o país mantém relações econômicas com a ilha, que tem um escritório comercial e cultural em Brasília. São Paulo também possui uma representação comercial.

Apesar do tom contra Pequim, Liao diz que Taiwan entende as "relações muito boas que existem entre Brasil e China" e evita fazer comentários sobre a posição brasileira.

Questionado sobre a possibilidade de um conflito na região, Liao afirma que a situação de Taiwan é diferente daquela vista por exemplo na Ucrânia, invadida pela Rússia e em guerra há quase dois anos.

Ao mesmo tempo, a eleição de Lai Ching-te como o novo presidente taiwanês contribuiu para aumentar as tensões no estreito, palco de constantes exercícios militares de Pequim.

A China nunca descartou uma ação militar para assegurar sua soberania sobre o território, mas uma ação do tipo teria uma resposta incisiva dos Estados Unidos. Em viagem à Ásia, o presidente Joe Biden já disse que Washington defenderia Taiwan em caso de invasão, e um general americano de alto escalão previu uma guerra entre as duas grandes potências em 2025, também em decorrência de uma eventual ofensiva militar chinesa sobre Taipé.

De acordo com Liao, a segurança de Taiwan é um tema "sumamente importante" para todo o mundo devido, entre outras razões, à concentração da produção de semicondutores e de chips avançados na ilha. Alguns especialistas usam o termo "escudo de silício" para se referir a essa proteção da ilha contra a China.

"Caso exista uma guerra, vai causar uma perda na economia de todo o mundo. Acho que a maioria dos países não quer que isso ocorra porque vai causar uma recessão em nível mundial", diz.

Liao ressalta ainda que, embora as relações comerciais entre Brasil e Taiwan não se comparem com as que aquele mantém com a China, os investimentos taiwaneses em território brasileiro são significativos, centrados na área de alta tecnologia. Ele dá o exemplo da Foxconn, gigante da área de produtos eletrônicos.

"Por isso quero dizer que entre Brasil e Taiwan as relações comerciais são estáveis e estreitas."

Antes de vir ao Brasil, Liao ocupou o posto de cônsul-geral em San Pedro Sula, em Honduras. O país centro-americano era um dos poucos países que ainda reconheciam Taiwan, mas em 2013 mudou de posição e rompeu com a ilha —e estabeleceu relações com Pequim.

O mesmo aconteceu com a pequena Nauru, que colocou fim nos laços diplomáticos logo após a última eleição taiwanesa. Hoje, apenas 12 nações reconhecem Taiwan como país.

"Estamos preparados para manter o status quo. Mas do outro lado do estreito [de Taiwan], a China sempre está [nos] ameaçando, não só diplomaticamente", afirma Liao.

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