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Risco de ataque ao Irã coloca Biden no fio da navalha

Atrás de Trump nas pesquisas, presidente enfrenta pressão para retaliar ataques a forças dos EUA

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São Paulo

Atacar ou não atacar o Irã? A questão deixou as mesas de planejadores militares e futurólogos de think tanks para o centro do debate eleitoral americano, e isso é péssima notícia para o presidente Joe Biden.

O motivo é a campanha de forças aliadas a Teerã no Oriente Médio contra bases americanas na região, onde Washington posiciona pouco mais de 30 mil dos seus 170 mil militares no exterior.

Iraniana passa por grafite da Estátua da Liberdade destruída, pintado no muro da antiga embaixada dos EUA em Teerã
Iraniana passa por grafite da Estátua da Liberdade destruída, pintado no muro da antiga embaixada dos EUA em Teerã - Atta Kenare/AFP

As primeiras mortes de soldados dos EUA, em um ataque que deixou dezenas de feridos no sábado (27) na Jordânia, fizeram explodir a politização em torno da crise —elevando exponencialmente o risco de uma conflagração maior, opondo a superpotência a seu maior rival na região, o regime teocrático dos aiatolás.

Era uma questão de tempo. As forças americanas no Iraque, cerca de 2.500 militares, e na Síria, algo como 900, são particularmente expostas, ficando em bases isoladas. São alvos fáceis, que até aqui contavam com a falta de acurácia de drones e morteiros dos inúmeros grupos afiliados ao Irã nos dois países e a seus sistemas de defesa.

Mas tais instrumentos têm limites, demonstrados no fim de semana. A oposição republicana, de olho nas chances crescentes apontadas em pesquisas de Donald Trump de reassumir a Presidência, foi na jugular de Biden, acusando-o de deixar suas forças indefesas ante insurgentes de todo tipo.

Os estrategistas de Biden devem estar pensando neste momento acerca da sapiência de jogar todo o peso militar americano na defesa de Israel após o ataque do Hamas de 7 de outubro.

Ao enviar dois grupos de porta-aviões, um deles já de volta aos EUA, e anunciar reforços em suas bases, inclusive 900 soldados, os EUA conseguiram inicialmente convencer o Irã e seu aliado mais poderoso, o Hezbollah libanês, a não escalar seu apoio aos palestinos para uma guerra aberta na região.

Mas isso pode estar mudando. No cálculo presumido do Irã, há o risco de que um conflito destrua a economia do país e ameace a já chacoalhada estabilidade do regime. Uma leitura alternativa tem surgido nas últimas semanas nos meios próximos a Teerã, e ela se encaixa no cenário atual.

Segundo essa visão, compartilhada por alguns diplomatas e analistas, radicais em Teerã creem que Biden não teria coragem de ir às vias de fato com o Irã, algo potencialmente perigoso principalmente para as expostas bases e forças navais dos EUA no golfo Pérsico, e no máximo empregaria ataque punitivos pontuais.

Esses, segundo essa versão, seriam de razoável absorção pelo Irã, colocando Teerã numa posição de força e renovando a musculatura do governo. Os perigosos ataques iranianos contra rivais na Síria, no Iraque e no Paquistão, e as ações constantes de seus aliados contra forças americanas, em tese reforçam esse raciocínio.

Seja qual for a intenção iraniana, o efeito prático é obrigar Biden a andar sobre um incômodo fio de navalha. Como não pode deixar os ataques impunes, o que também é veneno eleitoral, até aqui tem aplicado respostas olho por olho, sempre mirando a fonte nominal das ações —ainda que dando nome aos bois, acusando o Irã de patrociná-las.

Mas a demora até aqui na reação ao grave incidente do sábado, e os relatos vazados à imprensa americana, sugerem que o debate está acalorado. O anúncio do grupo suspeito de ter praticado o ataque pode dar também um respiro à situação. Mesmo um ataque limitado ao Irã, com quem os EUA dizem que não querem entrar em guerra, pode ter consequências imprevisíveis.

Há fios desencapados em demasia na região, vital para a economia mundial com seus campos de petróleo e gás. Biden também nega estar em guerra com os houthis do Iêmen, mas bombardeia o país quando lhe convém. O que irá acontecer se um míssil antinavio dos rebeldes conseguir furar as defesas americanas e atingir com seriedade um destróier no mar Vermelho?

Novamente, a questão subjacente é a extensão da guerra em Gaza, e está claro que Biden tem recursos limitados para lidar com Binyamin Netanyahu. Aqui há outra navalha para o presidente, com pressões contraditórias vindas tanto da influente comunidade judaica americana quanto da esquerda democrata.

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