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Manifestantes formam fila na Argentina após ministra dizer que receberia quem tem fome

Protesto ocorreu de forma pacífica em Buenos Aires; governista não atendeu ninguém

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Buenos Aires | AFP

Centenas de pessoas formaram uma fila que se estendeu ao longo de aproximadamente 30 quarteirões nesta segunda-feira (5), em Buenos Aires, como forma de protesto após a ministra do Capital Humano da Argentina, Sandra Pettovello, dizer que receberia "um por um os que têm fome".

A ministra fez a declaração na última quinta (1º), enquanto os deputados argentinos discutiam um pacote de reformas do presidente ultraliberal Javier Milei e em um contexto de índices altos de inflação e pobreza.

Manifestantes formam fila em Buenos Aires após ministra dizer que receberia pessoas que têm fome
Manifestantes formam fila em Buenos Aires após ministra dizer que receberia pessoas que têm fome - Agustin Marcarian - 5.fev.24/Reuters

Na ocasião, um grupo de pessoas se aproximou do Ministério do Capital Humano para protestar contra a diminuição da assistência alimentar aos restaurantes comunitários. A ministra Pettovello deixou o prédio para dialogar com os manifestantes e rebateu as críticas. "É assim que vou fazer. Vocês estão com fome? Venham um por um. Vou anotar o número de identificação, nome e de onde vocês são. Vocês receberão ajuda individualmente."

Em resposta, centenas de pessoas participaram nesta segunda da chamada "fila contra a fome", numa manifestação convocada por organizações sociais que ocorreu de forma pacífica. Os manifestantes exibiram cartazes com as mensagens "com a fome do povo não se negocia" e "temos fome". Alguns disseram esperar a entrega de alimentos, o que não ocorreu.

"Bom, o povo tem fome, estamos aqui", disse à agência de notícias AFP Carmen Morán, que coordena um restaurante comunitário na Argentina. "Vamos ver se a ministra se compadece de nós, dos necessitados, dos de baixo, para que a ajuda chegue às cantinas e aos restaurantes."

O porta-voz da Presidência argentina, Manuel Adorni, disse em entrevista que a ministra não pôde receber os manifestantes porque não os havia convocado. "Não foi a intenção da ministra que a população passasse mal debaixo do sol com essas temperaturas", afirmou. "Não queremos mais intermediários, não queremos mais negócios com os pobres."

Donos de restaurantes populares reclamam que não recebem ajuda suficiente do governo para atender a demanda. "Há milhares de famílias, e o governo tem de entender isso", disse Alejando Gramajo, secretário-geral do sindicato Utep (União e Trabalhadores e Trabalhadoras da Economia Popular) e um dos organizadores da iniciativa de segunda.

O episódio rendeu a Pettovello uma denúncia criminal de Juan Grabois, líder do MTE (Movimento dos Trabalhadores Excluídos), "por não ter ordenado a entrega de alimentos a cantinas de bairros e comunidades em toda a Argentina, violando assim as normas que garantem a alimentação daqueles que estão sofrendo com a extrema pobreza".

Ainda na segunda, Pettovello assinou junto ao Ministério da Infância, Adolescência e Família um convênio de assistência alimentar com a Aliança Cristã de Igrejas Evangélicas da Argentina por um valor de 177,5 milhões de pesos (R$ 1,05 milhão).

A Argentina vive crise econômica, com inflação de 211% ao ano e taxa de pobreza de 45%. Numa tentativa de reverter a situação, Milei apresentou à Câmara a chamada "lei ônibus" que propõe uma reforma ultraliberal no país. O pacote foi aprovado na sexta (2) e será discutido artigo por artigo antes de ir ao Senado.

Dos 664 artigos originais, sobraram cerca de 380. A lei foi sendo depenada aos poucos ao longo das últimas três semanas, diante de debates em comissões, de uma greve geral e de intensas negociações do governo para obter quórum, já que o presidente conta apenas com uma pequena minoria do Congresso.

Em resumo, ficou de fora todo o coração fiscal da reforma, que incluía uma nova fórmula de reajuste da aposentadoria, a ampliação do imposto de renda e o aumento da taxação de exportações. Por outro lado, Milei manteve a possibilidade de contrair dívidas externas sem o aval do Congresso e de privatizar total ou parcialmente dezenas de estatais, por exemplo.

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