Conselho de Segurança da ONU expressa preocupação com escalada de crise no Haiti

Líder de gangues ameaça fazer guerra civil caso premiê não renuncie; Ariel Henry está fora do país

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São Paulo

O Conselho de Segurança da ONU fez uma reunião de emergência nesta quarta-feira (6) para tratar da crise no Haiti, onde gangues têm promovido uma escalada de violência na capital, Porto Príncipe, que ameaça se espalhar por todo o país. Em um comunicado, o órgão das Nações Unidas disse estar preocupado com o que chamou de uma situação crítica.

O objetivo dos grupos criminosos é derrubar o premiê, Ariel Henry, que estava fora do país em viagem oficial ao Quênia quando a crise começou e não conseguiu retornar.

Jimmy Cherizer, conhecido como Barbecue (churrasco, em inglês) e líder de uma aliança de gangues haitianas, disse em uma entrevista coletiva na terça-feira (5) que, se Henry não renunciar e se a comunidade internacional continuar a apoiá-lo, vai iniciar uma "guerra civil que vai terminar em genocídio".

Foto mostra um homem negro armado com metralhadora e um colete onde se lê a palavra "polícia" gesticulando para que civis continuem a andar por uma rua
Um policial patrulha as ruas de Porto Príncipe durante o estado de emergência declarado pelo governo do Haiti - Ralph Tedy Erol - 6.mar.2024/Reuters

A crise atual teve início no último domingo (3), quando uma gangue invadiu um presídio de Porto Príncipe e libertou cerca de 4.000 pessoas. O governo declarou um estado de emergência e toque de recolher, e houve confrontos entre forças de segurança e gangues nos arredores do aeroporto da capital, que foi fechado.

O paradeiro de Henry era incerto no início da semana. Na terça (5), os Estados Unidos confirmaram que ele está em Porto Rico, território americano no Caribe, para onde viajou depois que a República Dominicana, que divide a Ilha de São Domingos com o Haiti, recusou-se a permitir que o premiê pousasse no país.

Henry viajou ao Quênia para negociar um acordo de segurança apoiado pela ONU que prevê o envio de milhares de policiais quenianos e de outros países africanos ao Haiti para reforçar o combate ao crime organizado. O plano havia sido aprovado pelo parlamento do país africano em novembro do ano passado, mas caiu por terra quando o Supremo Tribunal do Quênia declarou o envio de agentes inconstitucional.

A Justiça queniana entendeu que o governo de Henry não é legítimo e que as leis haitianas e quenianas são diferentes demais para possibilitar a atuação dos policiais. O governo do Quênia prometeu trabalhar para ultrapassar esse obstáculo, mas ainda não há prazo para o envio dos agentes.

Henry chegou ao poder no Haiti depois do assassinato de seu antecessor, Jovenel Moïse, que foi morto em julho de 2021 por mercenários colombianos em um crime ainda sem explicação —o próprio Henry é acusado de envolvimento na morte pelo primeiro-ministro anterior, Claude Joseph, e pela viúva de Moïse, Martine. Ambos estão exilados nos EUA.

A Justiça do Haiti, por outro lado, acusou formalmente Joseph e Martine pelo assassinato de Moïse e pediu a prisão dos dois no último dia 19. Joseph diz que Henry utiliza o Judiciário para perseguir opositores "em um clássico golpe de Estado".

O Departamento de Estado americano disse na quarta que não vai pedir a renúncia de Henry, mas que espera que o premiê possibilite uma transição de poder que garanta a chegada de policiais estrangeiros e a realização de eleições justas. O último pleito presidencial no Haiti foi em 2016. O governo Joe Biden também disse que não pretende ajudar Henry a voltar ao país.

O Alto Comissário das Nações Unidas para Direitos Humanos, o austríaco Volker Türk, disse que mais de 1.100 pessoas foram mortas pelas gangues no Haiti desde o início do ano, e que a situação é "insustentável".

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