EUA propõem na ONU cessar-fogo imediato em Gaza após veto a 3 propostas anteriores

Resolução será votada pelo Conselho de Segurança na sexta; Washington derrubou textos de Brasil, Argélia e Emirados Árabes

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São Paulo

Os Estados Unidos apresentaram ao Conselho de Segurança da ONU uma resolução pedindo cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza.

O texto, que será votado nesta sexta-feira (22), é o primeiro apresentado pelo governo americano com essa demanda específica. Antes, os EUA, um dos cinco membros permanentes do Conselho e, portanto, com poder de veto, barraram propostas de trégua em três ocasiões diferentes desde o início da guerra Israel-Hamas.

A população e socorristas encaram os destroços de um prédio destruído após ser atingido por um ataque israelense em um campo de refugiados em Rafah, no sul da Faixa de Gaza - Said Khatib - 20.mar.24/AFP

A primeira proposta, formulada pelo Brasil em seu período na presidência rotativa do conselho, em outubro, foi derrubada por Washington sob a justificativa de que faltava no texto citar o direito de Israel à autodefesa.

No início de dezembro, os EUA também vetaram o texto proposto pelos Emirados Árabes Unidos alegando que ele era utópico e "incapaz de mudar a situação em campo em termos práticos".

Já o plano mais recente, submetido pela Argélia em fevereiro, foi vetado porque, segundo os americanos, não vinculava o cessar-fogo à soltura dos reféns que continuam em Gaza e, portanto, poderia comprometer "negociações delicadas" em curso. Estima-se que os terroristas do Hamas ainda mantenham cerca de cem sequestrados no território palestino, além de terem em seu poder os corpos de outras 30 pessoas que morreram em cativeiro.

Segundo a agência de notícias AFP, que teve acesso ao documento submetido pelos EUA, essa conexão é clara na proposta delineada por Washington. O documento ainda ressalta a necessidade de "proteger os civis de todas as partes e permitir o fornecimento de ajuda humanitária".

Há semanas dizia-se que o texto preparado pelos americanos também incluiria uma posição contrária à invasão de Rafah, na fronteira de Gaza com o Egito. O motivo seria o risco potencial de morte de uma enorme quantidade de civis, uma vez que a cidade é, na prática, o último refúgio dentro do território palestino para os deslocados internos da guerra. Não está claro, porém, se essa demanda está mantida na versão final da proposta de resolução.

Para ser aprovado, o texto precisa de ao menos nove votos favoráveis dos 15 membros, além de escapar do veto dos membros permanentes, que são, além dos EUA, França, Reino Unido, China e Rússia —os dois últimos vetaram uma proposta de Washington relativas à guerra Israel-Hamas no primeiro mês do conflito.

"Os EUA têm trabalhado seriamente com os membros do Conselho nas últimas semanas numa resolução que apoiará inequivocamente os esforços diplomáticos em curso destinados a garantir um cessar-fogo imediato em Gaza como parte de um acordo de reféns, que libertaria os reféns e ajudaria a permitir um aumento na ajuda humanitária", disse Nate Evans, porta-voz da missão dos EUA nas Nações Unidas, logo após o anúncio de que o texto será submetido à votação nesta sexta.

A informação de que a proposta de resolução tinha sido apresentada ao conselho foi dada pelo chefe da diplomacia dos EUA, Antony Blinken, à emissora da Arábia Saudita Al Hadath na quarta-feira (20). Jiddah foi o primeiro destino do americano em seu giro mais recente pelo Oriente Médio, o sexto desde o começo do conflito em Gaza.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o ministro das Relações Exteriores do Egito, Sameh Shoukry, reúnem-se no Cairo - Evelyn Hockstein/Reuters

A segunda parada foi no Egito, nesta quinta-feira (21), em uma tentativa de destravar as negociações de uma nova trégua, nos moldes daquela que permitiu uma pausa de sete dias em novembro. No Cairo, classificou a eventual invasão de Rafah de "desnecessária" e afirmou que "há meios melhores de enfrentar a ameaça representada pelo Hamas".

Embora os EUA sejam historicamente os maiores aliados de Israel, a pressão de Washington parece não estar surtindo o efeito esperado. A postura de Tel Aviv ficou explícita no comentário feito por Ron Dermer, ministro de Assuntos Estratégicos e ex-embaixador de Israel nos EUA. Segundo ele, a invasão "acontecerá mesmo que Israel seja forçado a lutar sozinho. Mesmo que o mundo inteiro se volte contra Israel, incluindo os Estados Unidos, vamos lutar até que a batalha seja vencida."

Nesta sexta, enquanto o Conselho de Segurança da ONU estiver analisando a resolução proposta pelos EUA, Blinken estará em Israel, onde deve se reunir com o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. O encontro se dá em um momento considerado o auge da tensão entre Washington e Tel Aviv desde o início da guerra.

O secretário de Estado americano tem buscado apaziguar as tensões em suas falas, tendo indicado que um acordo de cessar-fogo estaria próximo durante a sua estada em Jiddah. Falta combinar com Israel, aparentemente. Ainda na quarta (20), Netanyahu disse que não pretende poupar esforços para cumprir seu objetivo em Gaza, derrotar o Hamas, ao discursar a senadores do Partido Republicano nos EUA.

Da sexta viagem ao Oriente Médio em seis meses, porém, Blinken diz estar levando na bagagem de volta a Washington um "bom progresso" nas negociações para a normalização dos laços diplomáticos entre Israel e Arábia Saudita.

Depois dos Acordos de Abraão, que levaram Tel Aviv a restabelecer relações com vizinhos no Oriente Médio sob mediação do então presidente Donald Trump, a aproximação de israelenses e sauditas pode ter impactos significativos em termos de estabilidade regional e mesmo no tema atualmente mais sensível, o conflito israelo-palestino.

União Europeia se une para pedir pausa humanitária na guerra em Gaza

Os países da União Europeia defenderam nesta quinta-feira uma "pausa humanitária imediata" na guerra Israel-Hamas e disseram estar "horrorizados" com a situação humanitária no território palestino.

Como resultado de uma cúpula em Bruxelas, os líderes do bloco também instaram Israel a não invadir Rafah, alegando que uma operação terrestre dessa magnitude "poderia piorar a já catastrófica situação humanitária e impedir a prestação urgente de serviços básicos e de assistência humanitária".

Os líderes europeus reforçaram ainda a preocupação "com a situação humanitária catastrófica em Gaza e seu efeito desproporcional sobre os civis, especialmente as crianças, bem como o risco iminente de fome". Nesse contexto, apelaram à adoção de "medidas imediatas" para evitar novos deslocamentos e "fornecer proteção segura à população"

Com AFP e Reuters

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