O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, divulgou nesta terça-feira (9) um vídeo do interior da embaixada mexicana em Quito, no Equador, no momento da invasão da sede diplomática pela polícia e pelo Exército equatorianos na última sexta-feira (5).
Agentes encapuzados a bordo de carros blindados entraram no local, que é protegido pelo direito internacional, para retirar o ex-vice-presidente Jorge Glas —ele estava abrigado na sede da representação, mas com um mandado de prisão pendente contra si devido a condenações por corrupção.
As imagens mostram Glas sendo carregado por quatro policiais. Além disso, é possível ver mais agentes armados apontando uma arma de fogo para Roberto Canseco, o encarregado da embaixada mexicana. O diplomata ainda tenta evitar a saída dos veículos com Glas, mas é novamente subjugado por policiais.
Em resposta à operação policial, o México anunciou que rompeu as relações diplomáticas com Quito, fechou sua embaixada e denunciou o país à Corte Internacional de Justiça (CIJ). O incidente gerou uma crise diplomática que coloca em perigo as relações equatorianas com a América Latina.
A operação gerou uma onda de repúdio de outros países da região. Nações lideradas por políticos de esquerda e direita, como Brasil, Argentina, Venezuela, Cuba, Bolívia, Uruguai, Honduras, Chile e Panamá condenaram a ação, e a Nicarágua também anunciou a ruptura das relações diplomáticas com Quito.
Por outro lado, Obrador criticou a postura de Estados Unidos e Canadá frente à crise diplomática. O presidente considerou que não houve um repúdio contundente ao ataque à embaixada mexicana em Quito e cobrou um posicionamento do próprio presidente Joe Biden.
"Houve declarações ambíguas dos EUAe do Canadá sobre este incidente. Somos parceiros econômicos e comerciais, vizinhos, mas suas posições estão indefinidas até agora", disse em entrevista coletiva.
Os EUA reagiram logo após as críticas públicas de Obrador. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, condenou "o uso da força contra funcionários da embaixada" do México em Quito.
"O governo equatoriano ignorou suas obrigações e colocou em perigo os fundamentos das normas e relações diplomáticas básicas", disse Sullivan.
Glas retornou nesta terça-feira para a prisão de segurança máxima La Roca, em Guayaquil, para onde havia sido transferido após a captura. Na segunda-feira (8), o ex-vice-presidente tinha sido hospitalizado em um hospital militar da cidade devido a uma descompensação que sofreu após fazer greve de fome durante 24 horas na prisão.
Segundo o serviço penitenciário equatoriano, Glas apresentava "parâmetros de saúde aceitáveis e dentro da normalidade para receber alta".
A invasão policial da embaixada mexicana em Quito e a prisão de Glas ocorreram após o México conceder asilo ao ex-vice-presidente, que tem um mandado de prisão por suposto crime de peculato no manejo de fundos destinados à reconstrução de vilas após um terremoto em 2016.
O Equador classificou o asilo de Glas de "ilegal". O ex-vice-presidente havia saído da prisão em 2022 por uma medida cautelar após cumprir 5 dos 8 anos de condenação por outros casos de corrupção.
Glas tentava fugir das autoridades equatorianas refugiando-se na embaixada do México no Equador desde o dia 17 de dezembro. Sua defesa argumenta que os processos de que ele é alvo são casos de perseguição judicial dos últimos governos e do atual, chefiado pelo presidente do Equador, Daniel Noboa.
A crise diplomática começou na quarta-feira (3), quando AMLO afirmou que o assassinato do candidato Fernando Villavicencio na campanha presidencial equatoriana de 2023 abriu caminhos para a vitória do atual presidente.
A administração de Noboa reagiu e afirmou que os comentários foram ofensivos, declarou a embaixadora mexicana "persona non grata" e expulsou-a do país. Um dia depois, o México concedeu asilo a Glas, seguindo o costume de abrigar correístas como o ex-chanceler Ricardo Patiño e os deputados Soledad Buendía, Carlos Viteri e Gabriela Rivadeneira.
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