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México concede asilo a ex-vice de Correa refugiado em embaixada no Equador

Governo Noboa expulsou embaixadora após falas de presidente mexicano comparando violência eleitoral nos dois países

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Cidade do México | AFP

O México concedeu asilo político nesta sexta-feira (5) a Jorge Glas, ex-vice-presidente do Equador, em decisão que tensiona ainda mais as relações entre os dois países, amplificada após a expulsão da embaixadora mexicana em Quito devido a comentários do presidente, Andrés Manuel López Obrador.

Glas, que foi vice do ex-presidente Rafael Correa, está refugiado na embaixada do México no Equador desde o dia 17 de dezembro, evitando assim uma ordem de prisão por suposta corrupção. Para sair do país, no entanto, ele precisa de um salvo-conduto que o atual presidente, Daniel Noboa, recusa-se a dar.

Militares equatorianos patrulham do lado de fora da embaixada do México em Quito após embaixadora ser declarada 'persona non grata'
Militares equatorianos patrulham do lado de fora da embaixada do México em Quito após embaixadora ser declarada 'persona non grata' - Karen Toro - 5.abr.2024/Reuters

O anúncio da concessão de asilo ocorre um dia depois de o governo equatoriano declarar a embaixadora mexicana Raquel Serur "persona non grata" e ordenar sua saída do país. Serur deve ser retirada do país em um avião militar mexicano, e uma delegação ficará responsável pela embaixada.

Os dois governos descartaram romper relações, mas a proteção a Glas abre uma nova frente de conflito após comentários do presidente mexicano, conhecido pelas iniciais de seu nome, AMLO, em que ele fez referência a violência política como motivação da expulsão de Serur.

Ao anunciar o asilo concedido a Glas, o Ministério das Relações Exteriores do México afirmou em comunicado que sua embaixada em Quito está sofrendo um "claro assédio", com o deslocamento de policiais e militares em seus arredores desde quinta-feira.

"Assim são os fascistas", disse AMLO nesta sexta, em sua entrevista coletiva diária, na qual reiterou as polêmicas declarações e lembrou que o direito internacional proíbe a invasão de embaixadas.

A chanceler equatoriana, Gabriela Sommerfeld, disse, por sua vez, que o governo busca "mostrar seu protesto e rejeição às declarações" do presidente mexicano com o aumento da vigilância no prédio.

Glas cumpriu pena de prisão por um escândalo de subornos da empresa brasileira Odebrecht, mas enfrenta outra ordem de prisão por supostamente desviar fundos de reconstrução após um terremoto em 2016.

O ex-vice-presidente e o próprio Correa afirmam que o caso se trata de perseguição política. O ex-presidente, ainda muito popular no país, foi condenado a oito anos de prisão por corrupção e está politicamente inabilitado. Ele mora hoje na Bélgica, país de origem de sua esposa.

O México já rejeitou um pedido do Equador para permitir a captura de Glas.

A crise diplomática começou na quarta-feira (3), quando o esquerdista AMLO estabeleceu um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, e a criminalidade que ocorre no México às vésperas das eleições de 2 de junho.

Nas palavras do presidente mexicano, o crime contra Villavicencio criou um "ambiente tenso de violência" que, somado à "manipulação" por parte de alguns meios de comunicação, provocou a queda nas pesquisas da candidata de esquerda Luisa González, apoiada por Correa, e a ascensão de Noboa, que saiu vencedor.

Crítico ferrenho de Correa, Villavicencio ficou conhecido por suas denúncias sobre o fortalecimento do narcotráfico à sombra do governo no Equador.

A administração de Noboa considera que os comentários de AMLO "ofendem o Estado equatoriano", pois o país ainda está de "luto". Sete pessoas detidas pelo homicídio de Villavicencio foram assassinadas na prisão.

AMLO alertou nesta sexta que o México pode enfrentar uma situação semelhante à do Equador na atual campanha eleitoral, na qual a candidata governista, Claudia Sheinbaum, lidera confortavelmente as pesquisas acima da candidata de centro-direita, Xóchitl Gálvez (lê-se "Sótil"), e do nome de centro, Jorge Álvarez Máynez.

Desde outubro passado, quando começou o processo eleitoral para o pleito que acontece em junho, pelo menos 15 candidatos ou pré-candidatos a cargos regionais foram assassinados no México, segundo o governo. De acordo com um levantamento do site Infobae, são mais de 45 os mortos relativos à eleição.

Nesta sexta-feira, AMLO fez uma firme defesa da figura do asilo no México, destacando que no passado salvou a vida de latino-americanos perseguidos por ditaduras. O país concedeu nos últimos anos asilo ou refúgio a vários ex-colaboradores de Correa.

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