Conservadores deixam disputa presidencial no Irã

Candidatos pedem união contra único moderado na disputa, que ocorre nesta sexta

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São Paulo

Num esforço de última hora pedindo unidade do campo conservador na eleição presidencial do Irã, dois candidatos deixaram a disputa, cujo primeiro turno ocorre nesta sexta (28).

O pleito foi marcado após a morte do presidente ultraconservador Ebrahim Raisi em um desastre de helicóptero no mês passado, bagunçando os planos de sucessão controlada do líder máximo do país, o aiatolá Ali Khamenei.

Jovem com o cabelo coberto sorri segurando foto de um homem de cabelos brancos, com outra mulher agitando bandeira branca, verde e laranja do Irã ao fundo, numa avenida à noite
Apoiadora do ultraconservador Saeed Jalili com retrato do candidato durante ato em frente à Universidade de Teerã - Raheb Homavandi - 26.jun.2024/AFP

Raisi era visto amplamente como um eventual sucessor do líder da teocracia fundada em 1979, que tem 85 anos e saúde frágil. Com a surpresa de sua morte, tanto o campo conservador quanto o dito reformista se viram desorganizados.

Surgiram então cinco candidatos, um deles reformista —designação que deve ser usada com cautela, dado que eles só estão na corrida com a anuência do Conselho dos Guardiões, entidade com 12 membros que vetou 74 outros candidatos. Ou seja, nenhum opositor real ao regime pode ser eleito.

Dois dos mais radicais conservadores, o prefeito de Teerã, Alireza Zakani, e Amirhossein Ghazizadeh Ashemi, 1 dos 12 vice-presidentes do país, abandonaram suas postulações nesta quinta (27). Segundo pesquisas locais, eles teriam cerca de 2% das intenções de voto.

"Eu peço que Saeed Jalili e Mohammad Baqer Ghalibaf se unam e não deixem as demandas das forças revolucionárias sem resposta", escrevei Zakani no X (ex-Twitter). Ele se referia a dois dos principais candidatos linha-dura, respectivamente o ex-negociador nuclear do governo de Mahmoud Ahmadinejad (2005-2013) e um general que chefiou a Força Aérea.

O movimento visa barrar o único reformista na disputa, Masoud Pezeshkian, um cinzento cirurgião cardíaco que serviu como ministro da Saúde no governo de Mohammad Khatami (1997-2005), o mais moderado dos cinco presidentes eleitos sob as regras da Constituição de 1989.

Analistas viram a autorização à sua candidatura como uma concessão de Khamenei visando aumentar a participação popular no pleito. Em 2021, Raisi foi eleito com pouco menos da metade do eleitorado indo às urnas, dado que sua vitória era vista como certa e orquestrada.

Aparentemente, o tiro pode ter saído pela culatra, já que as mesmas pesquisas dão a ele uma liderança sobre os adversários, um pouco acima de Jalili e mais à frente de Ghalibaf. Ninguém, contudo, deve obter os 50% mais um voto necessários para evitar um segundo turno, o que pode ao fim garantir a vitória conservadora no dia 5 de julho.

Pezeskhkian tem feito uma campanha em favor da retomada de negociações com o Ocidente, em particular sobre o programa da bomba atômica iraniana. Khamenei não o criticou diretamente, mas em discurso na quarta (26) alertou que eleitores devem ficar atentos a quem vê nos EUA "a fonte do progresso".

O pleito ocorre em meio a uma grave crise econômica, ao agravamento das tensões no Oriente Médio com o risco de uma guerra aberta entre Israel e o Hezbollah libanês, preposto do Irã, e questões sociais relativas aos direitos das mulheres, que geraram protestos inauditos no ano passado.

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