Ano de 2013. Protestos nas ruas demandando maior presença do Estado e mais "direitos": o movimento passe livre, os 20 centavos. Quem ainda se lembra? Em cinco anos, instala-se uma "primavera liberal" a reboque de um "El Niño conservador".
Em 2018, o brasileiro finalmente se deu conta de que o PSDB é um partido com ideias de esquerda, e não de direita, como se pensava. Como explicar a guinada no clima em tão pouco tempo? Será que se deveu tão somente ao desastre de Dilma e ao brilhante desempenho do presidente eleito, Jair Bolsonaro?
O ambiente atual é cria da ascensão de novas correntes de pensamento que têm crescido silenciosa e dramaticamente desde 2004. Entre estas, destacam-se de um lado o conservadorismo de estilo britânico, e do outro, o ultraliberalismo da Escola Austríaca de Economia e o anarcocapitalismo.
Naquela época em que o movimento ultraliberal cabia em uma Kombi, alguns poucos indivíduos refundaram aqui tais correntes de pensamento de forma sistemática e inovadora, focando a comunicação com jovens. Entre as iniciativas sistemáticas destacam-se, pelo lado conservador, as desenvolvidas pelo professor Olavo de Carvalho e, pelo lado ultraliberal, a fundação de novos think tanks como o Instituto Mises Brasil. Sedentos e fanáticos, jovens ultraliberais consumiram em uma década mais de um milhão de e-books e mais de 100.000 livros físicos de autores tais como Mises, Hayek, Bastiat e Rothbard.
A inescapável ligação entre a torre de marfim das ideias puras e as mudanças reais nas políticas públicas se dá pela mediação dos intelectuais, artistas, acadêmicos, escritores. É como um campeonato de futebol entre correntes de pensamento. No Brasil há o time socialista --recordista de campeonatos--, o keynesiano, o social-democrata, o conservador, e outros.
Em 2007, o time ultraliberal estreou no campeonato, mas até recentemente nunca chegou a ganhar partida alguma. Por quê?
O goleiro representa o líder-fundador da doutrina: Marx no time socialista, Keynes no time social-democrata, Ludwig von Mises no time ultraliberal etc. Todos bastante fortes.
A defesa é formada pelos acadêmicos nas universidades, que traduzem a doutrina para a realidade brasileira. Nesse quesito, o time socialista tem sido imbatível, com virtual hegemonia na academia, onde o time ultraliberal estreia apenas recentemente. O meio de campo, a alma do time, é formado pela cultura: intelectuais, artistas, escritores etc. O time socialista tem reunido o melhor meio de campo, com Chico Buarque, entre outros, deixando o novato meio de campo ultraliberal atônito com sua ginga.
O ataque é formado pelos políticos, que esperam a jogada ser trabalhada pelo meio de campo da cultura e metem a bola para dentro do gol. Sem meio de campo, portanto, nada feito.
Não se forma cultura do dia para a noite. É um trabalho hercúleo, em que não há atalhos. No entanto, perseverança e tenacidade ao longo de 15 anos dão retorno, especialmente porque ideias melhores tendem a gerar melhor resultado. Dinamizados por numerosas torcidas ao canto de "Menos Marx, Mais Mises!" e "Imposto é Roubo!", e agora equipados com meios de campo talentosos, tanto o time conservador quanto o time ultraliberal subiram na tabela.
Ato contínuo, atacantes políticos de outros times, dotados de seu tradicional faro aguçado, passaram a cobiçar fazer parte do elenco, vendendo-se como "liberais desde pequenininhos". É um novo campeonato, que o Brasil, surpreso, jamais viu.
Não há dúvida de que o desastre do time socialista de Dilma ajudou. Adicionalmente, Jair Bolsonaro foi visionário ao apresentar uma plataforma convergente e atraente para os times conservador e ultraliberal.
Estes, distintos em vários aspectos, similares em outros, estão pontualmente unidos para governar o país, sob a liderança do presidente, e com o ultraliberal de base Paulo Guedes no comando da área econômica.
Que a primavera liberal floresça.
Que a primavera liberal floresça
Times conservador e ultraliberal subiram na tabela
sua assinatura pode valer ainda mais
Você já conhece as vantagens de ser assinante da Folha? Além de ter acesso a reportagens e colunas, você conta com newsletters exclusivas (conheça aqui). Também pode baixar nosso aplicativo gratuito na Apple Store ou na Google Play para receber alertas das principais notícias do dia. A sua assinatura nos ajuda a fazer um jornalismo independente e de qualidade. Obrigado!
sua assinatura vale muito
Mais de 180 reportagens e análises publicadas a cada dia. Um time com mais de 200 colunistas e blogueiros. Um jornalismo profissional que fiscaliza o poder público, veicula notícias proveitosas e inspiradoras, faz contraponto à intolerância das redes sociais e traça uma linha clara entre verdade e mentira. Quanto custa ajudar a produzir esse conteúdo?
ASSINE POR R$ 1,90 NO 1º MÊS
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.