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Errando sem aprender

Aumento de tarifas sobre produtos chineses pelo governo Trump teve efeito contrário ao pretendido

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Xi Jinping e Donald Trump andam lado a lado
Xi Jinping, presidente da China, e o presidente americano, Donald Trump, durante encontro em Pequim em 2017 - Fred Dufour - 9.nov.2017/AFP

A notícia de que o déficit dos Estados Unidos no comércio de bens atingiu US$ 891 bilhões no ano passado —10,4% acima do montante de 2017 e o maior já registrado— mostra que a atitude belicosa do presidente Donald Trump até agora não trouxe os resultados desejados.

Com grande alarde, o republicano impôs tarifas de 10% a 50% sobre US$ 283 bilhões em importações anuais. De sua parte, os parceiros comerciais dos EUA retaliaram com taxas de 16% (em média) sobre aproximadamente US$ 121 bilhões das vendas americanas.

Para Trump, o saldo comercial constitui grande embaraço político, dado que o objetivo de sua política era justamente reduzir o rombo, sobretudo no comércio com a China. Nem isso foi obtido, pois o comércio bilateral de bens gerou superávit de US$ 419 bilhões em favor do gigante asiático, cerca de 12% a mais que em 2017.

A tendência explosiva do déficit americano começa a expor os limites da política de cunho populista. A começar por quem paga pelas tarifas —estudo recente demonstrou que houve alta dos preços dos bens vendidos no mercado doméstico.

Dito de outra maneira, os custos do protecionismo recaíram sobre os consumidores dos EUA, não sobre os exportadores chineses.

A culpa é da gestão Trump. Sua redução de impostos de US$ 1,5 trilhão, centrada nas empresas, foi levada a cabo num momento em que a economia americana já operava a plena capacidade, com a menor taxa de desemprego em décadas. 

O estímulo tributário aqueceu ainda mais a atividade. Em sequência, para combater o risco inflacionário, o banco central elevou a taxa de juros três vezes, para até 2,5% ao ano, em desalinho com o que ocorria em outras grandes regiões, como Europa e China.

Não surpreende, assim, que o dólar tenha se valorizado ante as principais moedas globais no período —prejudicando, afinal, o comércio com o exterior. 

Gastos internos em disparada e moeda forte formam a receita perfeita para a expansão das importações. Tal dinâmica se mostra mais poderosa que qualquer decisão de governo, incluindo o uso de tarifas. 

Depois de decretar que guerras comerciais são boas e fáceis de vencer, Trump corre o risco de dobrar a aposta errada. Embora as expectativas para um acordo com a China pareçam positivas, nada sugere uma trégua duradoura. Há ainda perigo de conflitos com outros parceiros, notadamente a Europa.

Populistas costumam radicalizar suas políticas fracassadas, sobretudo quando investiram grande capital político nelas.

editoriais@grupofolha.com.br ​ ​ ​ ​ ​

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