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Sangria chavista

Nicolás Maduro enfrenta um movimento crescente de contestação a sua autoridade

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Nicolás Maduro (à esq.) e Juan Guaidó
Nicolás Maduro (à esq.) e Juan Guaidó - Yuri Cortez e Juan Barreto/AFP

Menos de um mês após tomar posse de um segundo mandato de seis anos, obtido por meio de eleições ilegítimas, Nicolás Maduro enfrenta um movimento crescente de contestação a sua autoridade, numa escala a que nem ele nem a própria oposição previam chegar em tão curto espaço de tempo.

Concorre para isso a ampla acolhida estrangeira à autoproclamada presidência interina da Venezuela por parte do deputado antichavista Juan Guaidó, que comandava a Assembleia Nacional. Nesta segunda (4), alguns dos principais países da Europa, como França, Alemanha e Reino Unido, reconheceram-no como líder transitório.

Tal decisão decorreu do fim do prazo dado pelos governantes dessas nações para Caracas antecipar a realização de novas eleições —proposta previsivelmente rejeitada.

Antes dos europeus, convém lembrar, o opositor já contava com o aval do Brasil, dos Estados Unidos e de quase todos os atores relevantes da região, à exceção do México.

Dispor dessa rede externa de apoio decerto não garante por si só o exercício do poder, mas funciona como fator dissuasivo ante uma eventual tentativa de intimidação. Prender Guaidó ou cerceá-lo de alguma maneira —expedientes usuais contra adversários do regime— teria agora um custo político bem maior.

Sem a caneta do Executivo nas mãos, o autodeclarado presidente procura manter-se em evidência para intensificar a sangria de Maduro. Convoca protestos de rua e pede ajuda humanitária à comunidade internacional, ressaltando a catástrofe socioeconômica gestada por duas décadas de chavismo e agravada nos últimos anos.

Ademais, tenta trazer para seu lado o alto oficialato das Forças Armadas, talvez o último pilar de sustentação da ditadura. Para tanto, acena com uma lei de anistia àqueles que desertarem.

Não será tarefa simples convencer a cúpula militar a renunciar às benesses que lhe são oferecidas em troca de fidelidade, seja por meio de propina ou de participação em empresas estatais estratégicas, como a petrolífera PDVSA.

Surgem, de todo modo, sinais de fissura. No sábado (2), um general-de-divisão (terceira patente mais alta) da Aeronáutica gravou vídeo no qual afirma desconhecer a “autoridade ditatorial” de Maduro.

Por mais que a ruína chavista pareça ser questão de tempo, o restabelecimento da ordem democrática passa necessariamente pelo diálogo com o regime. Deve-se persistir na busca de uma transição pacífica —o que Guaidó, ao menos em tese, parece compreender.

editoriais@grupofolha.com.br

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