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Fronteira do chavismo

Ainda que a discrição do Itamaraty já tenha se perdido, Bolsonaro deve preservar pilares pacifistas e multilaterais

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Passadas três semanas desde a tentativa orquestrada entre Estados Unidos, Brasil e Colômbia de acelerar a derrocada do ditador venezuelano, Nicolás Maduro, os resultados têm sido, até este momento, bem distantes do almejado.

Na fronteira, o envio frustrado de duas camionetes com alimentos e remédios doados por Brasília e Washington incentivou atos contra o regime chavista, mas não a ponto de superar o aparato repressivo ou de desencadear uma rebelião militar, como desejavam os três países e a oposição venezuelana.

Para a população local, o saldo foi o assassinato de sete manifestantes por militares chavistas, com o recrudescimento da repressão.

Apoiadores acompanham comício do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, em 16 de março
Apoiadores acompanham comício do autoproclamado presidente da Venezuela, Juan Guaidó, em 16 de março - Juan carlos Hernandez/AFP

Acrescente-se o fechamento por tempo indeterminado da fronteira com o Brasil, que centenas cruzavam diariamente em busca de refúgio ou mantimentos ausentes das prateleiras venezuelanas. Ademais, elevou-se a tensão entre as Forças Armadas dos dois países. 

Como de praxe em regimes ditatoriais, a pressão internacional é usada para justificar ações arbitrárias. O recente blecaute —um problema recorrente na sucateada Venezuela chavista, que desta vez durou vários dias de caos e desespero— serviu de pretexto para mais uma onda de detenções, inclusive de um jornalista.

Diante da fraude eleitoral cometida no ano passado, o governo brasileiro agiu corretamente em reconhecer a legitimidade da Presidência interina do deputado Juan Guaidó, decisão adotada por mais de 50 países, incluindo EUA, Alemanha, Argentina e Reino Unido, entre outras democracias.

O Itamaraty, porém, deveria se afastar da linha mais agressiva do governo Donald Trump, que não tem descartado ação militar.

Endossar uma medida tão extrema contrariaria os princípios da não intervenção e da autodeterminação dos povos, contidos no artigo 4º da Constituição de 1988, além de desencadear consequências imprevisíveis para a região.

A visita do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à Casa Branca, marcada para terça-feira (19), tende a ser crucial na definição dos próximos passos contra Maduro.

Ainda que a discrição histórica do Itamaraty já tenha se perdido no caso, que o mandatário ao menos trate de preservar outros pilares da melhor tradição diplomática brasileira —altiva, pacifista e adepta do multilateralismo.

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