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Erika Palomino

Centro Cultural São Paulo: o gigante acordou

Espaço desperta de letargia e ganha pluralidade

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A jornalista Erika Palomino, diretora do Centro Cultural São Paulo (CCSP) - Zanone Fraissat - 31.jan.19/Folhapress
Erika Palomino

O Centro Cultural São Paulo (CCSP), maior equipamento cultural da Prefeitura de São Paulo, tanto em tamanho quanto em amplitude de atuação, vive nova fase. Despertou de certa letargia, de certa crise de identidade que o acossava, aos seus 37 anos de vida.

Criado para ser a primeira instituição multidisciplinar da cidade, conta com salas de espetáculo e de cinema; espaços expositivos; acervos de arte; o segundo maior conjunto de bibliotecas do município, incluindo um acervo em braille e uma discoteca com 85 anos de documentação, criada por Mário de Andrade; jardins suspensos e quatro pisos, em 55 mil m² encravados entre a avenida 23 de Maio e a rua Vergueiro, tendo praticamente dentro de si a estação de metrô cujo nome lhe serve de alcunha. E, mesmo assim, há quem simplesmente não o conheça ou quem o tenha esquecido em algum lugar de sua juventude, na memória afetiva de tantas gerações.

Ao assumir a Secretaria Municipal de Cultura, em janeiro último, Alê Youssef me convida para o cargo de diretora e estabelece o prédio como farol do movimento de pertencimento e vínculo do programa São Paulo Capital da Cultura, marco de ações da área da gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB). Com o pé no acelerador, encaro como missão resgatar o papel do equipamento como artífice de modernidades e tingir sua programação com as questões mais urgentes da agenda do país, devolvendo-lhe o pulso, a relevância, a energia. Ousado, charmoso, mais ágil e ainda mais plural. Este é o novo CCSP.

O icônico prédio pensado por Eurico Prado Lopes e Luiz Telles em pleno regime militar, com suas entradas permeáveis sem portas, sem catracas, ruas internas e pátios protegidos, é a chave para o “reboot” do CCSP. “Ninguém conseguiu censurar a arquitetura. Fizemos um espaço para reunir as pessoas, um edifício democrático”, explicava Telles.

Certamente, os arquitetos não faziam ideia de como essa estrutura de proteção e respeito às liberdades individuais seria tão necessária nos nebulosos dias de hoje, de achaque à educação, ao pensamento, à arte e aos trabalhadores da cultura.

Sob pilares de aço e vigas de concreto, à égide do wi-fi, no novo CCSP materializamos a convivialidade de Ivan Illich nos corpos de todos os gêneros que dançam todos os gêneros diante das vidraças espelhadas.
E também nos exercitamos com as poéticas da diversidade de Édouard Glissant, em que “viver a totalidade-mundo a partir do lugar que é o nosso é estabelecer relação e não consagrar exclusão”. O “outro”, de Enrique Dussel, somos nós.

Estamos em franco fluxo, em comunicação dinâmica (nas redes sociais e no boca a boca) e movimento transversal —o que aumentou em 90,2% o público nos eventos das curadorias, nesses nossos quatro meses iniciais, se comparado a 2018. 

Valorizamos tanto a memória da cidade quanto a produção de conhecimento crítico e de subjetividades; promovemos o acolhimento e o debate de ideias, potencializando relações de afeto, contra o recalque, rumo ao contemporâneo.

Agora, já com mais atenção por parte do poder público e os (possíveis e desejados) apoios da iniciativa privada, o novo CCSP tem tudo para atingir sua plena propulsão.

Erika Palomino

Jornalista, consultora criativa e autora de “Babado Forte” (ed. Mandarim) e “A Moda” (Publifolha); desde fevereiro dirige o Centro Cultural São Paulo (CCSP)

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