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Remissão da carne

Trabalho contesta recomendações de queda do consumo, em novo vaivém nutricional

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Sanduíche servido na Burgay, em São Paulo - Elisa de Paula/Divulgação

Estudos recém-publicados pelo reputado Annals of Internal Medicine despertaram interesse —e, em alguns setores, comoção— ao afirmar que não há evidências científicas sólidas para sustentar a recomendação de que as pessoas comam menos carne vermelha.

Os trabalhos não chegam a dizer que inexiste correlação entre o maior consumo de carne bovina e suína e riscos sanitários como ataques cardíacos e câncer. Apenas postulam que os benefícios proporcionados pela redução, se verdadeiros, são tão pequenos que não justificam a elaboração de diretrizes individuais.

Essas conclusões não partem de Joesley e Wesley Batista, da JBS, mas de um consórcio internacional que analisou dezenas de pesquisas envolvendo 55 populações e mais de 4 milhões de pacientes.

Previsivelmente, nem todos os especialistas concordaram. A American Heart Association e a American Cancer Society criticaram a publicação. Um pesquisador graduado a qualificou como “irresponsável e antiética”. Ao menos até aqui, entretanto, ninguém apontou erros metodológicos ou estatísticos.

Provavelmente teremos de esperar a publicação de mais revisões sistemáticas, nos próximos anos, até saber para que lado penderá a balança dos especialistas.

A volatilidade das recomendações nutricionais já parte do imaginário popular. O caso mais emblemático talvez seja o do ovo, tantas vezes condenado e reabilitado.

A ciência da nutrição enfrenta desafios de extrema complexidade. O intervalo entre o consumo regular de um alimento e o eventual surgimento de efeitos sobre a saúde pode ser de décadas.

Em períodos tão dilatados, torna-se quase impossível controlar todas as variáveis, tanto de comportamento quanto de predisposições genéticas, que podem afetar os resultados. A maioria dos produtos que comemos tem impactos modestos, dificultando a detecção tanto daquilo que faz bem como daquilo que faz mal.

Ademais, a maior parte dos estudos dietéticos se baseia na memória dos participantes —usualmente falha, para dizer o mínimo.

Como se não bastasse, a nutrição é terreno no qual teses religiosas se propagam com facilidade, misturando-se com evidências científicas ou até as contaminando —o que explica a veemência de muitos dos conselheiros alimentares.

Em meio a tamanha balbúrdia, o mais sensato é manter uma dieta equilibrada temperada com pitadas generosas de ceticismo.

editoriais@grupofolha.com.br

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