É difícil, ou quase ingênuo, fazer uma avaliação puramente administrativa do governo Jair Bolsonaro, tamanha a carga ideológica que este faz questão de despejar até sobre iniciativas comezinhas. Ademais, a indigência do programa apresentado na campanha eleitoral torna árdua a comparação entre planos e resultados obtidos.
Esta Folha publicou no domingo (16) um balanço da evolução de indicadores econômicos, sociais, institucionais e ambientais no primeiro ano de mandato do presidente —que expõem um quadro, sem dúvida, desolador.
Cumpre apontar, decerto, que muitos dos dados desfavoráveis derivam de erros de gestões passadas. A ruína orçamentária herdada por Bolsonaro, em particular, está associada a deficiências nas ações de educação e saúde, à paralisia do salário mínimo e à escassez de obras públicas.
Do mesmo modo, parte dos avanços também representa continuidade de processos que já estavam em curso, como o controle da inflação, o corte dos juros, a criação gradual de vagas no mercado de trabalho e a queda dos homicídios.
Importa identificar, assim, o que o governo faz de concreto para enfrentar os desafios inescapáveis —a estagnação da renda nacional e a iniquidade em sua distribuição, o Estado ineficiente e em situação falimentar, o atraso no ensino, as taxas alarmantes de violência.
O saldo, até aqui, está longe de animador. A área econômica permanece a única que reúne quadros qualificados, conhecimento acumulado e alguma coerência programática. Mesmo assim, a capacidade operacional e política de levar adiante a ambiciosa agenda pós-reforma da Previdência ainda está por ser demonstrada.
Nos setores entregues à linha-dura bolsonarista, o desmonte predomina. A administração tem sido capaz de sabotar políticas públicas de que não gosta em educação, cultura, meio ambiente e relações exteriores, mas não de substitui-las por alternativas viáveis ou ao menos compreensíveis.
Não é preciso, por exemplo, discordar das ideias de Abraham Weintraub, titular do MEC, para notar sua inépcia escancarada no vaivém de subordinados e em propostas natimortas. Tampouco se pode dissociar a ofensiva antiambiental do ministro Ricardo Salles da piora aguda da imagem do país.
O despreparo e a desarticulação se fazem perceber, ademais, na quantidade anômala de decretos, projetos e medidas provisórias que morrem no Congresso Nacional ou no Poder Judiciário, por vício jurídico, inadequação técnica ou falta de diálogo político.
O que se tem, pois, é governo de menos. Tratando-se de Bolsonaro, esse talvez seja o menor dos males.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.