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Falando sozinho

Discurso ambíguo e inépcia para lidar com pandemia levam Bolsonaro a isolamento

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O presidente Jair Bolsoaro, durante entrevista coletiva - Lucio Tavora/Xinhua

A rápida disseminação do novo coronavírus empurrou Jair Bolsonaro para o isolamento político ao expor seu despreparo para lidar com a emergência e sua falta de sintonia com as aflições da população.

Poucos dias após classificar a pandemia como uma fantasia, o presidente finalmente reconheceu a gravidade da situação ao reunir seu ministério para uma entrevista coletiva na quarta-feira (18). À mudança tardia, no entanto, somou-se a inépcia.

A exposição das medidas adotadas para combater a calamidade foi confusa, além de prejudicada pelo uso inadequado de máscaras de proteção pelo presidente e por seus auxiliares, que revestiu o evento de tom farsesco.

A impressão não melhorou substancialmente com a entrevista coletiva desta sexta (20), quando a moléstia foi chamada de “gripezinha”.

O próprio Bolsonaro optou pela ambiguidade em vários momentos, voltando a falar em histeria em vez de se concentrar sobre o que é preciso fazer para atenuar o impacto do inevitável aumento do número de pessoas infectadas nas próximas semanas.

Chamado para uma reunião com o chefe do Executivo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), avisou que não iria sem que houvesse pauta objetiva. Disse que estava ocupado com a agenda de votações no Congresso e não tinha tempo para perder posando para retratos no Palácio do Planalto.

Por três dias seguidos, Bolsonaro tornou-se alvo de furiosos panelaços nas principais capitais do país. Houve protestos até mesmo em regiões onde ele venceu a eleição presidencial de 2018 com ampla margem de votos sobre os adversários, como São Paulo.

O mandatário viu seu capital político encolher também nas redes sociais da internet, onde até agitadores do bolsonarismo se distanciaram dele nos últimos dias, caso do escritor Olavo de Carvalho.

Enquanto o mundo busca coordenar esforços, os filhos do presidente seguem apostando na confusão e fustigando inimigos imaginários —da China aos líderes do Congresso Nacional.

Em pronunciamento na internet nesta quinta (19), Bolsonaro voltou a criticar providências tomadas por vários estados para conter a propagação do vírus, alertando para as dificuldades que uma paralisia da atividade econômica causará.

Ninguém ignora os riscos criados pelo avanço da doença, mas o presidente parece o único a agir como se não tivesse noção de prioridades, da importância de cooperação com outras esferas de governo e do imperativo de transmitir segurança à sociedade. Deixá-lo falando sozinho é a melhor opção.

editoriais@grupofolha.com.br

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