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João Pedro, 14

Políciais precisam responder por atrocidade que matou menino em operação no Rio

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João Pedro, 14, morto durante operação da Polícia Federal em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio - Twitter

A morte de João Pedro Matos Pinto, 14, em São Gonçalo, região metropolitana do Rio, é mais um dos episódios tenebrosos que se sucedem no país em ritmo vertiginoso.

Nesse painel de atrocidades, em que a tragédia da pandemia entrelaça-se com as crises política e econômica, alimentadas por um governo calamitoso, a violência contra populações de bairros pobres continua a marcar presença.

João foi vítima de uma operação policial na Ilha da Itaoca, onde seus familiares residem, deflagrada na tarde da última segunda-feira (18). Contaram-se mais de 70 marcas de projéteis na casa, alvejada de maneira indiscriminada, como se fosse um bunker ocupado por criminosos fortemente armados dispostos a resistir à investida das forças de segurança.

Tratava-se, no entanto, da moradia de uma tia do menino, na qual, de acordo com relatos, ao que tudo indica verdadeiros, membros da família se reuniam nestes tempos de distanciamento social.

De acordo com as informações prestadas pelos parentes, uma das tias e o pai de João, comerciantes, tinham saído para trabalhar num quiosque à beira da praia, quando as crianças e os adolescentes, num total de seis, que se encontravam na área externa, ouviram o ruído de helicópteros em voos rasantes. Ligaram para a tia, que recomendou que se abrigassem dentro de casa.

Segundo os jovens, policiais, a seguir, entraram disparando na área residencial, lançaram bombas de gás no jardim e invadiram a sala, acionando suas armas —tudo a despeito dos apelos dos garotos, que se jogavam ao chão.

João foi atingido com um tiro na região abdominal e não resistiu aos ferimentos, depois de peripécias ainda a serem explicadas para que fosse conduzido pelos policiais a um posto de saúde.

Pela versão das polícias Federal e Civil, que atuavam juntas no caso, não se sabe ainda por que motivo, seguranças de traficantes em fuga teriam pulado o muro da casa e resistido com armas e granadas.

É imperioso que se esclareçam o quanto antes as circunstâncias do ocorrido e que se punam os eventuais culpados. Tal obviedade, contudo, como se observa em situações similares pregressas, não raro esbarra na resistência corporativa e nos esforços mal dissimulados de autoridades para contornar uma conclusão irrefragável.

A família de João Pedro não pode ser mais uma a esperar pela justiça que não se consuma.

editoriais@grupofolha.com.br

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