O vídeo que registrou o episódio não deixa margem para dúvida: durante sessão da Assembleia Legislativa paulista, na quarta-feira (16), o deputado Fernando Cury (Cidadania) aproxima-se de maneira insidiosa por trás da deputada Isa Penna (PSOL), apalpa seu seio direito e é por ela repelido.
A parlamentar estava de pé, diante da mesa da Presidência da Casa, conversando com o presidente, Cauê Macris (PSDB), quando foi alvo da investida vil. A reação do deputado, após o assédio tornar-se público, também não ofereceu terreno para interpretações dúbias sobre sua miséria moral.
Discursou o parlamentar, com requintes de cinismo: “Gostaria de frisar a todos, principalmente às mulheres que estão aqui, que não houve, de forma alguma, da minha parte, tentativa de assédio, de importunação sexual ou qualquer outra coisa com algum outro nome semelhante a esse”.
A seguir, prosseguindo com a impostura, pediu desculpas pelo que teria sido um enlace inofensivo: “Se a deputada Isa Penna se sentiu ofendida com o abraço que eu lhe dei, eu peço, de início, desculpa por isso. Desculpa se eu a constrangi. Desculpa se eu tentei, como faço com diversas colegas aqui, abraçar e estar próximo”.
O partido do abraçante compulsivo foi mais sucinto e pragmático. Em nota assinada por Roberto Freire e Arnaldo Jardim, seus presidentes nacional e estadual, o Cidadania afirmou que “a legenda não tolera qualquer forma de assédio e atuará fortemente para que medidas definitivas sejam adotadas”.
Isa Penna, a vítima da canalhice, fez o que deveria fazer. Subiu à tribuna para denunciar o abuso e demandou providências para punir o agressor. Com apoio do PSOL, despertou ampla solidariedade e mobilizou parcela expressiva da opinião pública a seu favor.
Não se sabe se a agressão será reconhecida pelo Conselho de Ética da Assembleia —um tipo de órgão que infelizmente não dispõe da credibilidade necessária e, ademais, é composto por sete homens e apenas uma mulher na Alesp.
Certo é que o lamentável sucedido expõe a resistência da mentalidade machista truculenta, que traduz em opressão física e moral seus privilégios patriarcais.
Felizmente a resposta firme de setores da sociedade e de parte das instituições permite nutrir a esperança de que os abusos não passem impunes e de que as assimetrias venham um dia a ser superadas.
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