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Carlos F. D. Anjos, João L.Rosa e Nacime S. Mansur

Hospital de campanha e seu papel na pandemia em São Paulo

Instalações provisórias foram capazes de garantir assistência médica de qualidade

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Carlos Frederico Dantas Anjos, João Ladislau Rosa e Nacime Salomão Mansur

Membros da Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM)

Em dezembro de 2019 foi detectado na China o vírus Sars-CoV-2, provocando a Covid-19, uma doença pulmonar grave. Em janeiro de 2020, a OMS (Organização Mundial da Saúde) declara emergência sanitária internacional (pandemia) e a necessidade de os sistemas de saúde montarem estratégias de enfrentamento, como uso de máscaras, lavagem de mãos, distanciamento social e ampliação de leitos, com o objetivo de minimizar o impacto da pandemia na morbimortalidade associada e na sobrecarga dos serviços de saúde.

Nesse contexto, em São Paulo foram construídos os hospitais de campanha, inicialmente no Pacaembu e no Anhembi. O conceito de hospital de campanha é herdado dos campos de batalha e muitas vezes aplicados em situações de catástrofes, acidentes com múltiplas vítimas e epidemias. São estruturas simples, temporárias, destinadas à organização e à oferta de leitos hospitalares.

Com acesso regulado (porta fechada), hospitais de campanha foram construídos como retaguarda clínica da rede hospitalar e para atendimento de pacientes de baixa e média complexidade, provenientes de unidades isoladas não hospitalares, pacientes sem condições de isolamento domiciliar e de áreas de alta vulnerabilidade social.

A organização funcional de um hospital de campanha inclui unidades de apoio técnico, logístico e administrativo, unidade de acesso (triagem), tratamento clínico e de suporte respiratório, apoio diagnóstico e fluxos regulados de entrada e de saída.

No município de São Paulo, as unidades não hospitalares (UBSs, AMAs, UPAs, prontos-socorros Isolados) e prontos-socorros hospitalares foram as portas abertas de atendimento inicial aos pacientes. A regulação foi realizada pelo Núcleo Interno de Regulação (NIR), com médicos, enfermeiros e administrativos, funcionando 24 horas por dia, recebendo e transferindo os pacientes com critérios de transferências predefinidos e regulados através da Plataforma de Regulação (Cross) e por e-mails.

A Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) administrou no Anhembi um dos hospitais de campanha, o Hospital Municipal de Campanha Anhembi-SPDM (HMCA-SPDM), que contou com capacidade operacional para 310 leitos, sendo 16 de estabilização e 294 de observação, estratificados segundo critérios clínicos, epidemiológicos e de gravidade, com distanciamento seguro, possibilitando o isolamento e a privacidade dos pacientes.

Durante os cinco meses de funcionamento (11.abr.20 a 8.set.20), prestou assistência multiprofissional de qualidade, com acolhimento humanizado, triagem segundo o grau de risco e o tratamento clínico guiado pelas Diretrizes Assistenciais e de Controle de Infecções, baseadas em normativas oficiais (federal, estadual e municipal), dos organismos internacionais de saúde (Opas/OMS) e nas melhores evidências científicas médicas.

Nesse período de funcionamento, os resultados assistenciais foram significativos. Foram admitidos 3.077 pacientes, 90% procedentes do município de São Paulo (zonas leste, sul e norte). Do total, 56% procederam de UBSs, AMAs, UPAs e PS Isolados, com predomínio masculino e faixa etária entre 40 e 60 anos. Dos pacientes admitidos, 89% reportaram antecedentes de doenças crônicas como hipertensão, diabetes, doenças pulmonares e cardiovasculares.

A taxa média de ocupação foi de 50%, e a média de permanência, de 5,8 dias. Dos pacientes admitidos, 83% tiveram alta hospitalar, 16% foram transferidos, 0,5% evadiu-se e 0,45% sofreu mortalidade hospitalar.

Vale destacar também que o HMCA-SPDM teve participação em quatro protocolos de pesquisas institucionais e na avaliação de satisfação e aprovação dos pacientes, familiares e colaboradores. Mais de 90% avaliaram como ótimo/bom a estrutura e a qualidade do atendimento. Para 53% dos colaboradores, este foi o seu primeiro emprego na área da saúde.

Esses resultados nos permitem afirmar que o hospital de campanha foi capaz de garantir assistência médica de qualidade, em leito hospitalar, segundo a complexidade do cuidado, nos momentos mais críticos da evolução da doença, jogando papel fundamental na organização do cuidado e ofertas de leitos de internação.

Num cenário comum de superlotação das unidades de urgências e emergências em nosso país, de pacientes sem condições de isolamento domiciliar e provenientes de áreas de maior vulnerabilidade social, o hospital de campanha possibilitou ao SUS, em situação de crise sanitária, a garantia do acesso e a qualidade do atendimento hospitalar aos pacientes com Covid-19, contribuindo também para diminuir a morbimortalidade associada aos serviços de urgências e emergências superlotados.

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