Descrição de chapéu
Caio Penido

Os serviços ambientais e o pacto agroambiental

Devemos criar mercados que reconheçam valor e garantam renda à Amazônia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Caio Penido

Presidente do Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS)

Estamos todos, independentemente de ideologia, crenças ou valores, cansados de escutar que o Brasil é o país do futuro, que a Amazônia precisa ter mais valor de pé do que derrubada e por aí vai... Mas como transformar isso em realidade de forma disruptiva?

A pressão promovida na última década pela conservação de nossos recursos naturais, o visível avanço das negociações internacionais envolvendo créditos de carbono e a recente aprovação na Câmara e no Senado do PL 312/15, que cria a Política Nacional de Pagamento por Serviços Ambientais, podem representar indícios dessa virada histórica e definitiva que todos estamos aguardando.

Passadas algumas catarses ambientais, motivadas pelo aumento de desmatamento, queimadas e discursos polarizados de todos os lados, é hora de fazer um balanço de nossos ativos destinados à produção e conservação para traçarmos novas estratégias. A unanimidade em torno da importância da floresta amazônica mostra-nos a relevância do Brasil e de sua biodiversidade no contexto mundial.

Sendo um estoque de carbono, berço de rara biodiversidade, regulador dos fluxos de água e do clima global e prestador de outra infinidade de serviços ambientais, é preciso reconhecer que nossos biomas não estão inertes e conferir valor monetário a eles, com o objetivo de conciliar sua conservação, tendo em vista as legítimas aspirações dos que lá residem e de toda a sociedade brasileira.

A parte do rural mais arcaico precisa assumir que existem problemas, compreender a inevitabilidade dessa nova agenda e se modernizar na direção da regularização. Já o rural moderno e sustentável deve assumir o protagonismo nos diálogos internacionais e desenvolver campanhas baseadas em dados confiáveis, que fortaleçam sua imagem.

Alguns ambientalistas, também arcaicos, precisam se modernizar e sair da zona de conforto, abandonando a antiga estratégia de apenas difamar o setor produtivo sem mostrar os pontos positivos, às vezes manipulando a opinião pública em nome da conservação.

Os mais antenados já qualificam esse debate, indicando claramente esse cenário de impunidade, descolando a imagem do setor produtivo da onda de desmatamentos ilegais, motivados em um primeiro momento por grilagem de terras públicas, comércio ilegal de madeira e especulação imobiliária. Esses dois setores devem apoiar o poder público, nas instâncias federal, estadual e municipal, no combate firme a crimes ambientais e, juntos, anunciarem a boa nova: somos detentores da maior floresta tropical do planeta!

Segundo Nasa, Embrapa e Map Biomas, destinamos mais de 60% do território brasileiro à conservação, que entrega ao planeta uma infinidade de serviços ambientais —sem nenhuma remuneração. Se existe realmente esse consenso sobre o Brasil ser a maior biodiversidade do planeta, seria interessante que cientistas de renome se juntassem a essa aliança e se posicionassem junto a jornalistas e opinião pública mundial.

É chegado o momento de esquecer as nossas diferenças e nos unirmos para negociarmos com as nações desenvolvidas, maiores emissores de GEE (gases do efeito estufa), a criação de mercados que reconheçam valor e garantam renda a “floresta viva” e auxiliem de forma construtiva na conservação da Amazônia, respeitando a reputação e a soberania nacional, sem que haja exclusão ou prejuízo aos mais de 25 milhões de brasileiros que lá habitam. Vamos convidá-los a compartilhar conosco o custo ambiental de conservar essas áreas na forma da remuneração de serviços ambientais.

Este é o pacto agroambiental proposto em 2020 pelo GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável), que tenho a honra de presidir neste momento: produzir mais alimentos promovendo a intensificação das áreas degradadas, retirando CO2 da atmosfera e fixando-o no solo; implementar o Código Florestal, viabilizando a regularização ambiental; priorizar a regularização fundiária; e criar mercados mundiais e ferramentas de serviços ambientais, dentre eles os créditos de carbono —tudo isso de forma inclusiva e com cuidado na preservação da imagem do Brasil perante o mundo.
Só assim poderemos ter paz e forjar o renascimento de nossa rica nação, em sua verdadeira e natural vocação de potência agroambiental.

TENDÊNCIAS / DEBATES
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.